A política cognitiva, de um modo geral, tem sido controlada de forma hegemônica pela elite científica, sem atentar para o seu caráter público. Ao observar o declínio da eficácia das soluções sociais e políticas estabelecidas para combater a desigualdade e discriminação, o sociólogo Boaventura de Sousa Santos sustenta que a justiça global só poderá existir por meio de uma mudança epistemológica que garanta a justiça cognitiva global.
O Pensamento Latino-americano em Ciência Tecnologia e Sociedade ou PLACTS faz a crítica à concepção da tecnologia como ciência aplicada e neutra e promove a participação popular com outros saberes. Fundamenta-se em certa conceituação transdisciplinar que permitiu convergências epistemológicas e extracientíficas internas e externas às grandes áreas da ciência como a tecnociência a ciências humanas (Neder e Moraes, 2017, p.71). Nos países ibero-americanos essa tendência contemporânea mais ampla de revisão das Ciências Sociais e Humanas sobre o construtivismo social da tecnologia é conhecida como o movimento Ciência Tecnologia e Sociedade – CTS. Na visão de autores que trabalham com o conceito CTS, a tecnologia social surgiu como peça importante para ampliar a mobilização de movimentos sociais, sindicatos, empresas públicas e a mídia em geral. Assim, a Universidade tem sido convocada a associar ciência & tecnologia com saber popular. Considera-se a alta interdependência entre tecnologia e definição das condições da vida socioeconômica e da organização política da atualidade e, caso as definições prévias no projeto tecnológico não prevejam as formas de inclusão social das pessoas, grupos e classes sociais a tecnologia gera condições de exclusão (NEDER e MORAES, 2017 p.99).
Diferente da tecnologia convencional, que é desenvolvida para ou por empresas e segue uma lógica capitalista de se satisfazer uma demanda previamente identificada para se alcançar o lucro, a tecnologia social tem sido realizada por pessoas que sentem algum tipo de desconforto em relação à tecnologia convencional ou a situações que envolvem ou propiciam a sua concepção (DAGNINO, 2014).
Contudo, a partir da necessidade de questionar os mitos da neutralidade da ciência e do determinismo tecnológico Renato Dagnino avançou sobre os conceitos de Tecnologia Social e Economia Solidária e elaborou o conceito de Tecnociência Solidária. Ele define o conceito de tecnociência solidária enquanto decorrência cognitiva da ação de um coletivo de produtores que se organiza de forma a criar resistência para realizar um processo de trabalho cujo contexto socioeconômico engendra soluções direcionadas para a propriedade coletiva dos meios de produção. Estas formas de resistência advêm de um acordo social (que legitima o associativismo), as quais influem no ambiente produtivo seja visando a um controle (autogestionário) seja sob uma cooperação (de tipo voluntário participativo). Este processo provoca uma modificação no produto gerado, cujo ganho material pode ser apropriado segundo a decisão do coletivo de um empreendimento solidário (DAGNINO, 2019, p. 63).
No território informal ou nos ambientes dos circuitos da economia popular não existe a tradicional segurança jurídica, fiscal, financeira e bancária, mas o trabalho e a prestação de serviços e trocas se dão francamente, e até o crédito é compartilhado por laços de vizinhança, costume e hábito do compadrio e amizade. Tal orientação é compartilhada pelas experiências brasileiras de criar microprojetos demandados pelos grupos e pessoas em vizinhança nos bairros populares para acessar recursos de moeda corrente e social pelos bancos comunitários de desenvolvimento.
Nos territórios populares o direito à cidade e o direito à moradia são equivalentes a criação de direito à tecnologia social entendida como domínio das formas de produção autogeridas mediante o trabalho associado das comunidades. Na cidade, sob as características históricas da chamada autoconstrução e suas formas organizativas, este domínio do ciclo produtivo sobre as condições sociotécnicas de organização de lideranças, movimentos sociais e populares, pode ser fomentado por projetos semi-estruturados de ensino-pesquisa-extensão no formato de Residência Multiprofissional.
Reconhecendo a especificidade do Distrito Federal e entorno, com uma relação cidade/campo muito próxima e intricada, fazem-se presentes nos contextos de trabalho de pesquisa e extensão tanto espaços urbanos quanto rurais, em suas facetas mais ou menos mescladas em si. Os territórios populares do DF para convergência de ações de extensão podem ser divididos em áreas regulares – projetos e ações decorridas em áreas urbanas consolidadas e formalmente instituídas, áreas regularizadas ou reurbanizadas – projetos em áreas que passaram ou passam por processos de reurbanização e regularização e, por fim, áreas informais – aquelas que se mantém categorizadas enquanto informais ou irregulares, espaços frequentemente ausentes de qualquer intervenção formal do Estado (sistematizados nos trabalhos desenvolvidos pelo Grupo de Pesquisa e Extensão Periférico, trabalhos emergentes https://www.perifericounb.com/).
No contexto do enfrentamento da Covid-19, os mais vulneráveis como sempre são aqueles que já estão em risco, aqueles que moram em assentamentos informais, favelas densamente povoadas, ou até mesmo em Áreas de Relevante Interesse Social – ARIS, incapazes de se isolar, sem acesso à moradia adequada e serviços básico de saneamento, aumentam a chance de disseminação do vírus e sobrecarrega ainda mais o sistema de saúde. Geralmente apresentam congestionamento habitacional e problemas de saneamento, portanto, sem acesso à água e às condições de vida. A demanda por auxilio-emergência no contexto da pandemia atingiu cerca de 81 milhões de pessoas. As atividades levadas a cabo por essa população da economia popular demandam informações, trocas de experiências e novas formas de conexão entre si para completar e adensar cadeias produtivas e de serviços.
O curso “Fundamentos em Ciência, Tecnologia e Sociedade – CTS – Habitat, Agroecologia, Economia Solidária e Saúde Ecossistêmica” está sendo criada para formar uma base epistemológica transdisciplinar em Tecnociência Solidária para incluir a Extensão Universitária na Pós-graduação por meio de um projeto de Residência Multiprofissional CTS - UnB, uma parceria do Núcleo de Política de Ciência, Tecnologia e Sociedade – NPCTS/CEAM/UnB e professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo/PPG-FAU, da Faculdade de Planaltina/FUP, da Faculdade de Agricultura e Medicina Veterinária/FAV e CDS/UnB, da Faculdade de Saúde/FS, da Faculdade de Educação/FE e do Instituto de Humanas/IH. Envolverá formação e educação visando produção cognitiva que vai além da tecnologia social para promover assessoria sociotécnica em planos de gestão social para a produção do habitat, agroecologia, geração de trabalho e economia solidária, saúde ecossistêmica e saneamento. A inclusão de outros saberes e táticas para contribuir na construção de uma nova plataforma cognitiva e inovação tecnológica com um conhecimento coletivo e solidário possibilita criar métodos, processos ou técnicas (códigos técnicos e novas linguagens) constituindo a noção de Adequação Sociotécnica – AST. Essa nova base cognitiva contribui para equacionar problemas sociais e mediar conflitos socioambientais na luta pelos direitos essenciais das populações excluídas do processo de planejamento do território, que pelas práticas de resistência configuram novas tipologias de ocupações urbanas e rurais e redes de solidariedade. O projeto de Residência Multiprofissional CTS - UnB conta com a parceria da Nucleação da Residencia AU+E UFBA/UnB.
Período 03/02/2021 a 26/05/20201
Quartas-feiras de 18h às 20h
SEMANA 01 -03/02/21 - Apresentação da disciplina e dos professores
Fundamentos em CTS e o Projeto da Residência Multiprofissional CTS - Habitat, Agroecologia, Economia Solidária e Saúde Ecossistêmica. Professores da disciplina: Liza Andrade, Ricardo Neder, Raquel Moraes, Aldira Dominguez, Flaviane Canavesi e Perci Coelho
Extensão na Pós-graduação: o pioneirismo da Residência AU+E da FAU/UFBA - Professora convidada: Heliana Faria Mettig Rocha – UFBA.
SEMANA 02 -10/02/21 - Aula Magna: Tecnociência Solidária – Professor convidado: Renato Dagnino - UNICAMP
SEMANA 03 -17/02/21 - Leitura Programada - Tecnociência Solidária
SEMANA 04 -24/02/21 - Aula 1 - Adequação Sociotécnica e Economia Solidária – Professor Ricardo Neder
SEMANA 05 -03/03/21 - Trabalho em Grupo: construção de Caderno Técnico ilustrado “Adequacão Sociotécnica para a produção do Habitat, Agroecologia, Saúde Ecossistêmica e Economia Solidária.”
SEMANA 06 -10/03/21 - Aula 2 - Educação Freiriana e Cultura do Trabalho - Professora Raquel de Almeida Moraes
SEMANA 07 -17/03/21 - Trabalho em Grupo: construção de Caderno Técnico ilustrado “Adequacão Sociotécnica para a produção do Habitat, Agroecologia, Saúde Ecossistêmica e Economia Solidária.”
SEMANA 08 -24/03/21 - Aula 3 - Conexões Territoriais, Lutas sociais e Redes de Solidariedade Professor Perci Coelho
SEMANA 09 -01/03/21 - Trabalho em Grupo: construção de Caderno Técnico ilustrado “Adequacão Sociotécnica para a produção do Habitat, Agroecologia, Saúde Ecossistêmica e Economia Solidária.”
SEMANA 10 -08/04/21 - Aula 4 - Adequação Sociotécnica para a Produção do Habitat no Campo e na Cidade – Professora Liza Andrade
SEMANA 11 -15/04/21 - Trabalho em Grupo: construção de Caderno Técnico ilustrado “Adequacão Sociotécnica para a produção do Habitat, Agroecologia, Saúde Ecossistêmica e Economia Solidária.”
SEMANA 12 - 22/04/21 - Aula 5 - Adequação Sociotécnica para a Agroecologia e Agroubania – Professora Flaviane Canavesi
SEMANA 13 -29/04/21 - Trabalho em Grupo: construção de Caderno Técnico ilustrado “Adequacão Sociotécnica para a produção do Habitat, Agroecologia, Saúde Ecossistêmica e Economia Solidária.”
SEMANA 14 - 05/05/21 - Aula 6 - Saúde Ecossistêmica, Saneamento e Governança – Professora Aldira Guimaraes Duarte Dominguez
SEMANA 15 -12/05/21 - Trabalho em Grupo: construção de Caderno Técnico ilustrado “Adequacão Sociotécnica para a produção do Habitat, Agroecologia, Saúde Ecossistêmica e Economia Solidária.”
SEMANA 16 - 19/05/21 - Apresentação de algumas comunidades sobre Fundos Rotativos Solidários e Cooperativas Populares
SEMANA 17 - 26/05/21 - Apresentação Final do Caderno Técnico ilustrado “Adequacão Sociotécnica para a produção do Habitat, Agroecologia, Saúde Ecossistêmica e Economia Solidária.”
Professores, estudantes da graduação e da pós-graduação
Movimentos sociais, técnicos de governo, pesquisadores, entidades profissionais, associações, coletivos, comunidades
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