As mudanças vividas nos últimos anos nas universidades brasileiras quanto à abertura para a diversidade nos convidam a refletir sobre a participação dos Povos Indígenas em seu corpo docente e discente. Vêm se expandindo as análises em torno do tema da presença indígena nas instituições de ensino superior em um diálogo interdisciplinar entre áreas do saber acadêmico – sociologia, antropologia, psicologia e educação, entre outras – e o movimento indígena, resultando na formulação e expansão de políticas de ação afirmativa.
Este curso de extensão considera os significados da demarcação do território acadêmico a partir da produção científica das indígenas mulheres e de suas decisões políticas que as levam às universidades, tendo em vista que produzir na universidade é estar em totalidade com o território e com as lutas dos povos originários. No lugar da produção de conhecimento, as indígenas mulheres se deslocam do lugar de objeto de pesquisa para serem pesquisadoras, mesmo que enfrentando diariamente discriminações racistas fundamentadas em narrativas coloniais sobre seus corpos, mas mostrando que são muito mais que as cicatrizes da colonização.
À medida que estão se organizando em movimentos de resistência e re-existência, seguem enfrentando as violentas imposições do poder e as opressões colonial-modernas ao mesmo tempo em que reinventam-se como acadêmicas, contribuindo fortemente para a gestação de um novo pensamento social sobre o Brasil e uma nova sociedade. Portanto, um caminho que se abre é o de conhecer suas diversas trajetórias e experiências em perspectiva interseccional, apreender suas reflexões acerca dos dilemas teóricos e/ou metodológicos de produzir conhecimento enquanto indígena mulher e pesquisadora e contribuir para o fortalecimento dos laços sociais nas universidades pelo encontro de modos de ser, saber e fazer na diversidade, promovendo diálogos científicos e alianças – afetivas, epistêmicas, ontológicas e comunitárias - em profunda articulação entre as categorias próprias do pensamento indígena, do arcabouço teórico-conceitual ocidental e outras cosmovisões, referências e saberes para reivindicar o corpo-território na universidade e torná-la verdadeiramente pluriepistêmica.
Portanto, este curso de extensão busca contribuir para a incorporação das vivências engendradas no território científico e de perspectivas teórico-conceituais indígenas na formulação, implementação e avaliação das políticas de ingresso, permanência, conclusão e sucesso acadêmico, além de difundir as próprias produções acadêmicas de autoria indígena em termos dos aportes que suas vozes apresentam ao pensamento social brasileiro, enquanto legítimas produtoras de conhecimento. Por seu caráter horizontal, este curso se revela promissor para pesquisas, discussões e intervenções a serem implementadas e difundidas para uma inclusão intercultural no mundo acadêmico, o que deve proporcionar avanços para um diálogo fortalecedor de laços pela diversidade étnico-racial na Universidade de Brasília (UnB) e inovador da decolonialidade das relações no ambiente universitário e da própria pesquisa científica do país.
Ademais, com este curso objetivamos produzir material sobre o lugar dos Povos Indígenas no debate sociológico como um esforço de tornar relevante as ricas contribuições de autores e autoras indígenas para uma reinterpretação do que se convencionou chamar de pensamento social brasileiro.
Pretendemos também produção de material didático e colaboração com o aprofundamento de análises e conteúdos sociológicos acerca da questão indígena para uma potente ampliação epistêmica e qualificação do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais, ofertado pelo Instituto de Ciências Sociais (ICS) da UnB, capacitando os alunos licenciandos de forma que incorporem a perspectiva indígena em suas atividades como professoras/es, em consonância com as diretrizes da Lei 11.645/2008, que inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.
Período: 16/janeiro a 18/fevereiro de 2025, nas terças e quintas-feiras.
Carga horária: 30 horas. Estão previstos 10 encontros, cada um com 3h de duração, de 9h-12h00. Em cada encontro, uma ou duas acadêmicas indígenas estarão presentes como convidadas, além das coordenadoras do curso, conforme quadro abaixo.
Local: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Brasília (ICS-UnB).
Encontro
Data
Convidadas
Área do conhecimento
Leitura obrigatória
Leitura complementar
1
16/1
Braulina Baniwa
Antropologia Social
“Mulheres e território: reflexão sobre o que afeta a vida das mulheres indígenas quando os direitos territoriais são ameaçados”.
Disponível em:https://elizabethruano.com/wp-content/uploads/2019/07/Baniwa-2018-Mulheres-e-Territorio.pdf
“Indígenas Mulheres: Corpo território em movimento” (Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade de Brasília). Disponível em:http://repositorio2.unb.br/jspui/handle/10482/46364
“A Colonização sobre as mulheres indígenas: Reflexões sobre cuidado com o corpo”. Revista de Estudos em Relações Interétnicas. Interethnica. Disponível em:https://periodicos.unb.br/index.php/interethnica/article/view/20530
2
21/1
Alcineide Moreira e Rute Anacé
Relações Internacionais e Antropologia
Vivências Diversas:uma coletânea de indígenas mulheres - Memória: Vivências Coletivas da Nigó, entre ser do território e universitária.
A definir
3
23/1
Suliete Baré
Engenharia Florestal e Direitos Humanos
O retorno de Xawara no território Yanomami: conflito, luta e resistência
(Dissertação de mestrado)
4
28/1
Ana Manoela Karipuna
Antropologia/Sociologia
KARIPUNA, Ana Manoela. As perguntas das antropólogas: Percepções sobre a demarcação do território da escrita e o costurar dos conhecimentos. NOVOS DEBATES - FÓRUM DE DEBATES EM ANTROPOLOGIA, v. 7, p. 1-15, 2021. Disponível em: https://novosdebates.abant.org.br/wp-content/uploads/2024/02/FORUM-Ana-Manoela-Karipuna-DIAGRAMADO.pdf
Primo dos Santos, Ana Manoela. A autoria coletiva e a autoetnografia: experiências em antropologia com as parentas Karipuna do Amapá. BOLETIM DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI. CIÊNCIAS HUMANAS, v. 17, p. 1-15, 2022. Disponível em: https://www.scielo.br/j/bgoeldi/a/zcVRNRsDs59Wr5n9gRHsGzN/abstract/?lang=pt
5
30/1
Debora Tupinikin
Serviço Social
O Povo Tupinikim do Espírito Santo e o acesso de saúde indígena durante a pandemia de COVID-19: um estudo qualitativo
(Dissertação)
6
4/2
Shirley Krenak
Comunicação Social - Jornalismo
Filme “A Mãe de Todas as Lutas”
7
6/2
Jozileia Kaingang
Mulheres indígenas do Brasil, por Braulina Baniwa e Joziléia Kaingang. Em: A Cor da cultura [livro eletrônico] : história e cultura indígena: caderno de textos / [organização Fundação Roberto Marinho; coordenação Rita Potyguara, Bruna Camargos, Maria Corrêa e Castro ; ilustração Kel Oliveira, Gabriel Souza] - Rio de Janeiro: Fundação Roberto Marinho, 2024.
SCHILD, Joziléia Daniza Jagso Inacio Jacodsen. Articulação das mulheres indígenas no Brasil: em movimento e movimentando redes. Tese (doutorado) - Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Florianópolis, 2023.
8
11/2
Inara Nascimento Sateré Mawé
Antropologia e Saúde Coletiva
Terra, água e sementes: do corpo território das mulheres indígenas a uma concepção de soberania alimentar - Mulheres e Soberania Alimentar – Sementes de mundos possíveis https://biblioteca.pacs.org.br/wp-content/uploads/2020/03/Mulheres_e_SoberaniaAlimentar.pdf
9
13/2
Rita Potiguara e Rosilene Tuxá
Educação e Antropologia
10
18/2
Altaci Kokama
Linguística
A vitalização da língua Kokama além das fronteiras entre o Brasil e o Peru.
https://cadernos.abralin.org/index.php/cadernos/article/view/268/115
Professora Altaci Kokama e a Língua dos seus Ancestrais - Guardiãs da Floresta.
https://www.youtube.com/watch?v=JchML0IcZiY
Estudantes (graduação e pós-graduação), docentes e técnicos - toda a comunidade acadêmica
Estudantes (graduação e pós-graduação), docentes e pesquisadores
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