Desigualdades sociais e excelência na educação científica: uma busca por escolas que fazem a diferença a partir do Exame Nacional do Ensino Médio
ENEM; Excelência; Sociologia da Educação; Arbitrário; Performativo.
Nesta dissertação, investigamos a influência do efeito social no desempenho escolar no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), como um todo, e em Ciências da Natureza, em específico, nas edições de 2015 a 2019. A partir da Análise de Correspondência Múltipla Ajustada das informações socioeconômicas dos candidatos, obtivemos uma medida da posição social das escolas. Essa posição social, se tomada como variável explicativa em um modelo de Regressão Linear Simples, mostrou-se capaz de predizer aproximadamente 80% da nota alcançada pela escola no ENEM. Transpondo esse modelo para cada prova do certame, vimos que as provas de Linguagens e Ciências da Natureza apresentaram maior predição a partir da posição social da escola, com 74% e 71%, respectivamente. Quando olhamos para as Unidades da Federação, os estados da região Sudeste e o Distrito Federal ocuparam as primeiras posições nos rankings. Dessa forma, baseados na Sociologia da Educação de Pierre Bourdieu, sobretudo no conceito de arbitrário e atos performativos, e em estudos sobre eficácia escolar, lançamos um olhar crítico para o papel desempenhado pelos rankings na criação e manutenção da excelência escolar e qualidade de ensino de Ciências. Com isso, mostramos que novas formas de classificar as escolas são possíveis e que os rankings são sensíveis à maneira como essas classificações são operadas. Controlando o efeito social no desempenho escolar, observamos que algumas escolas estaduais e federais obtiveram desempenho muito acima do que era esperado nas provas de Ciências da Natureza e no ENEM como um todo, segundo o modelo estatístico empregado. Com relação às regiões do país, a região Nordeste apresentou alguns estados que despontaram quando o efeito social foi controlado. A essas instituições e regiões, designamos as expressões escolas que fazem a diferença e estados que fazem a diferença, respectivamente. Esperamos com essa pesquisa contribuir para o entendimento das bases da compulsão por medição de qualidade escolar e ranqueamentos, além de mostrar que a maneira vigente de ranquear tende a privilegiar e celebrar instituições e regiões onde está localizada a classe dominante.