A ONDA AZUL NA AMÉRICA LATINA: um estudo comparado entre as direitas de Chile e Brasil
democracia, hegemonia, direita, neoliberalismo, política latino-americana
A presente tese se propõe a discutir a dinâmica de abertura ideológica da democracia latino- americana, contextualizada pelo crescimento da direita política na região. Nesse sentido, a pesquisa buscou responder se a hegemonia restringe a abrangência ideológica de conteúdos típicos da direita na democracia liberal latino-americana. A partir da escolha dos casos de Chile e Brasil e a construção prévia de categorias analíticas, utilizou-se da técnica metodológica de análise de discurso, para analisar todos os planos de governo dos representantes das direitas mais votados nas eleições presidenciais de ambos países, desde 1989 até 2018. A análise empírica apontou que o neoliberalismo embasa e conduz todos os programas de governo da direita, e que essa ideologia não se expressa apenas na seara econômica, mas também na esfera social. Desse modo, concluiu-se que a democracia liberal latino-americana, sob os efeitos da hegemonia, não impõe limites aos conteúdos ideológicos característicos da direita. E sim o oposto, a democracia favorece, numa disputa político-eleitoral, os conteúdos neoliberais, típicos da direita, os quais se situam no centro do espectro hegemônico da América Latina. Ademais, observou-se um predomínio de propostas baseadas na evocação de valores (atrelados ao neoliberalismo) em torno do individualismo, do empreendedorismo, da meritocracia e da competição como como racionalidade social, e a opção pela preponderância de pautas baseadas na manutenção da lei e da ordem pública. Além disso, inferiu-se que a democracia latino- americana se demonstra aberta a aceitar conteúdos ideológicos vinculados à extrema direita, sem estabelecer restrições que inviabilizem a participação, no mesmo nível de igualdade com as demais propostas, em determinado sufrágio eleitoral. Por outro lado, apurou-se que a direita latino-americana, mesmo ancorada sob os postulados neoliberais, apresenta conteúdos de cunho social, típicos da esquerda, relativos à expansão do estado do bem-estar social e à distribuição de renda, para fazer frente aos próprios efeitos negativos ocasionados pelo neoliberalismo no âmbito social, de modo a minimizar, evitar e extinguir reinvindicações, conflitos, revoltas e rupturas no âmbito social, e propiciar o respectivo status quo.