Projetos de poder de extrema direita no Brasil e na Bolívia (2019-2022): padrão de dominação e resiliência neoliberal no capitalismo dependente
extrema direita; dominação; neoliberalismo; crise; capitalismo dependente
A ascensão de governos, projetos de poder e movimentos de extrema direita na América Latina desde 2015 em conjunto com o eclipse da chamada Onda Progressista, iniciada na virada do século XX para o XXI (Santos, 2018), provocou a reatualização de um acirrado debate teóricoconceitual e histórico quanto ao hipotético caráter fascista de governos e movimentos de extrema direita na região. Entre as muitas características das formações sociais dependentes, em especial as latinoamericanas, destacamos três para serem analisadas no plano da pesquisa proposta – estas transcendem o padrão de acumulação e reprodução neoliberal, mas com este se encontram produzindo efeitos particulares: 1. o autoritarismo, a repressão com uso de meios coercitivos e violentos e a instabilidade política enquanto traços centrais dos padrões dominação aqui desenvolvidos desde o colonialismo; 2. a hipertrofia da superpopulação relativa (Marx, 2013) no contexto de um mercado laboral estruturado pela superexploração da força de trabalho (Marini, 2000) e a precariedade das relações, condições laborais e de remuneração que lhe são tributárias; 3. a reatualização e perpetuação no tempo e no espaço de processos de racialização e divisão racial do trabalho, inaugurados pela colonização das Américas (Quijano, 2005), e suas imbricações com a superexploração da força de trabalho, bem como a desumanização e desvalorização da vida de grandes parcelas da classe trabalhadora. Como hipótese de trabalho, inferimos que esses três eixos fundamentais de longa duração impedem o esgarçamento dos limites estruturais que contingenciam a democracia liberal no Brasil e na Bolívia, enquanto moldam o padrão de luta de classes estabelecido. E, na hipótese da ascensão dos movimentos de extrema direita fascistas ou não, esses eixos anteriormente elencados seriam conformadores das condições para o surgimento, desenvolvimento e eventual consolidação e reemergência de tais projetos de poder. Concretamente, os casos analisados serão o brasileiro e o boliviano, no entanto, grande parte das reflexões talvez possa vir a ser extrapolada para o contexto latino-americano mais amplo, visto que essas formações sociais apresentam uma trajetória geral com significativos pontos e encruzilhadas em comum.