USOS DO FOGO NO TERRITÓRIO QUILOMBOLA KALUNGA: PRÁTICAS E PERCEPÇÕES
Palavras Chave em Português: Cerrado; queima controlada; percepções locais; conhecimento ecológico tradicional;
quilombolas.
As práticas tradicionais de uso do fogo por comunidades quilombolas são pouco documentadas na literatura. Buscamos neste
trabalho descrever as práticas de uso do fogo por comunidades quilombolas Kalunga. Com isso, documentar a época de uso do
fogo para as roças de toco e para a criação de gado, e identificar também, a partir de percepções Kalunga, os principais fatores
externos que influenciam na realização das queimas, como as mudanças climáticas e mudanças de uso da terra no Cerrado. O
estudo foi realizado em quatro regiões do Território Quilombola Kalunga (TQK), são elas: Vão de Almas, Vão do Moleque, Prata
e Engenho. Para a coleta dos dados de campo foram utilizadas entrevistas em profundidade com moradores que fazem uso do
fogo em suas práticas tradicionais e alguns brigadistas do Prevfogo/Ibama que atuam no Território, além de percursos
comentados com a finalidade de identificar e descrever áreas produtivas. Dentre os entrevistados, todos usam fogo em suas
práticas produtivas, sendo que está havendo alterações na época para realização das queimadas controlada para fins
produtivos. Os Kalunga têm percebido mudanças na vegetação e alterações no ciclo hidrológico de forma que influenciam no
uso do fogo para as práticas produtivas. As alterações nas épocas das chuvas percebidas pelos entrevistados foram
corroboradas com dados climáticos da região. Ao relatarem os motivos que levam às mudanças na vegetação, há variações nas
respostas, assim não é claro para todos os Kalunga os fatores que realmente causam essas mudanças, todavia as grandes
plantações de monoculturas no Cerrado vêm impactando na estrutura de vegetações, na disponibilidade de água e no regime
hídrico superficiais de forma que pode trazer alterações na vegetação nativa. Esta pesquisa contribui ao destacar a
importância de trazer as percepções locais para se pensar no manejo de territórios, além de ter um olhar para o uso do fogo
como uma ferramenta de manejo da terra, e explorar os potenciais impactos de mudanças ao longo dos tempos em práticas
tradicionais de uso do fogo.