A mulher e seus frutos: contribuição do Cerrado no sistema agroextrativista quilombola Kalunga
agroextrativismo; Kalunga; reprodução social; Cerrado.
No Cerrado a agricultura familiar tem por característica constituir um sistema agroextrativista. As produções
podem ser variadas, tratando-se, portanto, do conjunto de diferentes atividades produtivas que a família tem
em sua propriedade. Em Goiás, na área hoje reconhecida pelo Governo de Goiás por Sítio Histórico e
Patrimônio Cultural Kalunga (SHPCK) e pela ONU como o primeiro Território e Área Conservada por
Comunidades Indígenas e Locais (TICCA) do Brasil, o povo Kalunga usufrui dos recursos dados pelo
bioma para seu autoconsumo e comercialização. Devido ao isolamento, eles desenvolveram um forte
vínculo com o bioma e condições para que sobrevivessem. Assim, os moradores da comunidade Kalunga
Vão de Almas, são agricultores, extrativistas e alguns mantêm a tradição da pesca. O extrativismo não
apenas gera renda, fornece produtos para consumo e fabricação de utensílios e ferramentas. A prática
extrativista é, portanto, mais do que uma atividade que permite um retorno financeiro para quem a exerce.
Faz parte da tradicionalidade dessas pessoas. Utilizando-se do método LUME, uma ferramenta capaz de
absorver as relações entre as áreas social, econômica e ecológica dentro do sistema agroextrativista, o
objetivo geral do trabalho é o de analisar a função do extrativismo dos frutos do Cerrado nos sistemas
produtivos Kalunga e entender como esses garantem as condições mínimas para a reprodução social das
famílias. Com os objetivos específicos, deseja-se: i) caracterizar o sistema agroextrativista; ii) identificar e
mapear os fluxos de insumos, produtos, rendas monetárias e não monetárias do sistema agroextrativista; iii)
descrever a divisão social do trabalho dentro do sistema agroextrativista. Os resultados apontaram que a
atividade extrativista é de responsabilidade das mulheres; em regra, o extrativismo sempre é associado a
alguma outra fonte de renda e não custeia as principais despesas, mas é renda importante para a reprodução
social das famílias; as produções agrícolas e as criações de animais traduzem a autossuficiência da
comunidade e formam estratégia de renda para as famílias. A força que há nessa relação povo-território
traduz a resistência de um povo e a garantia de que não apaguem a história dos Kalunga. Fica evidente a
necessidade de uma organização social que contemple os moradores de toda o território atuando para
distribuição igualitária das oportunidades que chegam e que supere os conflitos pessoais que existem
visando o fortalecimento da comunidade.