"Avaliação bioquímica da biomassa de microalgas cultivadas em vinhaça."
microalgas; vinhaça; biomassa; ácidos graxos; pigmentos.
Introdução: dominando os ambientes aquáticos, as microalgas representam um poderoso recurso para pesquisas científicas e aplicações comerciais. Entre os potenciais usos está o tratamento de águas residuais e a coleta de sua biomassa para o desenvolvimento de produtos de interesse industrial, como biocombustíveis e biofertilizantes, que também oferecem menor impacto ao meio ambiente quando comparados aos atualmente comercializados. Pensando nisso, e considerando que a composição bioquímica da biomassa algal pode variar entre as espécies e é dependente da forma de cultivo, o objetivo deste trabalho foi avaliar dez linhagens de microalgas (Cepa 1, Cepa 2, Cepa 3, Cepa 4, Cepa 5, Cepa 6, Cepa 7, Cepa 8, Cepa 9, Cepa 10) quanto à produção de biomassa quando cultivadas em vinhaça, um efluente gerado durante a destilação do etanol após a fermentação da cana-de-açúcar. Materiais e métodos: as cepas foram cultivadas em vinhaça bruta autoclavada, com pH corrigido para 7,0, com temperatura, iluminação e agitação controladas. O crescimento foi monitorado espectrofotometricamente a 750 nm por um período de quatro semanas usando um leitor de microplacas. Após este período, as culturas foram colhidas por centrifugação e lavadas repetidamente para remover o resíduo de vinhaça. A biomassa produzida foi liofilizada e utilizada para determinar a produtividade, e a sua composição foi analisada para ácidos graxos por cromatografia gasosa e pigmentos por espectofotometria. Com esses resultados, 4 cepas (Cepa 1, Cepa 5, Cepa 6 e Cepa 9) foram selecionadas para o crescimento comparativo entre vinhaça e BG11 e análise da biomassa, sob as mesmas condições já descritas. Resultados: todas as dez linhagens cresceram em vinhaça, com destaque para 5 cepas- Cepa 4, Cepa 5, Cepa 6, Cepa 8 e Cepa 9. Quanto a produção de biomassa seca, todas as cepas apresentaram um teor acima de 3,5 mg/mL, mas sem diferença significativa entre elas. O perfil de ácidos graxos apresentou uma certa variação entre as 10 cepas de microalgas analisadas, sendo a maioria dos FAMEs composta por cadeias de 16 e 18 carbonos, com a proporção de ácidos graxos saturados e insaturados sendo 4:6, respectivamente. Os níveis de pigmentos de cada cepa seguiram um mesmo padrão, não havendo diferença significativa (p > 0,05) em nenhuma das três análises, com o teor de clorofila a variando de 6 a 11 μg/mg de biomassa, clorofila b de 2 a 6 μg/mg e carotenoides 1 a 2 μg/mg. No crescimento comparativo, as 4 cepas apresentaram diferença significativa no rendimento da biomassa, mas não houve diferença entre o cultivo em vinhaça e BG11 nas análises da massa seca dos ácidos graxos e o perfil obtido desse experimento foi similar ao do crescimento em vinhaça descrito anteriormente, inclusive a proporção de ácidos graxos saturados e insaturados. Quanto ao teor de pigmentos, houve diferença significativa entre os tratamentos apenas para a Cepa 6, em todas as 3 quantificações (clorofila a, b e carotenoides). Esses resultados permitem supor que a vinhaça não representou um fator de estresse às microalgas, não afetando significativamente seu crescimento e composição bioquímica da biomassa, o que apoia o uso desse resíduo como meio de cultura.