"FITOQUÍMICA DA AYAHUASCA PRODUZIDA COM DIFERENTES ETNOTÁXONS DE CIPÓS (MALPIGUIACEAE): REVISÃO DA LITERATURA E CROMATOGRAFIA".
Yagé, Composição química, Taxonomia tradicional
Ayahuasca é uma bebida de conotação espiritual e medicinal, feita mediante o cozimento do caule de Banisteriopsis caapi (Spruce ex Griseb.) C.V.Morton (Malpighiaceae) e as folhas de Psychotria viridis Ruiz & Pav. (Rubiaceae). É consumida historicamente na floresta amazônica por 72 etnias de troncos linguísticos distintos da Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela. A Ayahuasca foi difundida no meio urbano por religiões brasileiras como: Santo Daime, União do Vegetal e Barquinha e o consumo propagou-se para quase todos os continentes. A Ayahuasca tem em sua matriz a presença dos alcalóides ß-carbolínicos harmina, harmalina e tetrahidroharmina provenientes de B. caapi, e indólicos como a N,N-dimetiltriptamina (DMT) proveniente de P. viridis. A sinergia entre os alcalóides gera um efeito enteogênico nos usuários, pois os alcalóides ß-carbolínicos inibem a degradação da monoaminoxidase (MAO), e assim, permitem a ativação do DMT. São reconhecidos pelo menos 18 tipos de cipó, os quais chamaremos “etnotaxa”. Esses possuem diferenças, principalmente, na morfologia do caule, efeitos da bebida nos consumidores, sabor e coloração da bebida. Nossa hipótese é de que a composição química dos cipós dos distintos “etnotaxa" difere. O objetivo do trabalho foi identificar a relação entre a composição química dos chás, além das ß-carbolinas, e os dois mais difundidos “etnotaxa” de B. caapi, o Caupuri e o Tucunacá. Para verificar a hipótese, foi feita uma revisão da literatura. Foram registrados 15 artigos relacionados à fitoquímica da bebida e um que incluiu caules de B. caapi. Além das ß-carbolinas acima, por cromatografia há o registro de N-metiltriptamina, tetrahidronorharmina, harmol, harmalol, bufotenina, frutose, glucose, etanol, acetato e lactato. Por meio de histoquímica do cipó identificaram-se alcalóides, terpenóides, saponinas e lipídeos. Sobre a diferença química entre as “etnotaxa” há apenas dois artigos que não tem a mesma conclusão. O primeiro baseou-se em 35 amostras de chá analisados por HPLC-UV e o de Caupuri apresentou maior conteúdo de ß-carbolinas, o que explicaria os efeitos diferentes. O segundo artigo analisou 131 amostras de plantas com LC-MS/MS, e o teor de ß-carbolinas foi maior no Tucunacá, mas a diferença não foi estatisticamente significativa. Os resultados sugerem a realização de mais estudos para identificar os compostos químicos que estão relacionados com as diferenças entre as “etnotaxa”