As interações entre o clima e a restauração ecológica: uma abordagem baseada em modelos climáticos e de uso da terra para o Cerrado
Downscaling; temperatura superficial; umidade do solo; fogo; combustível.
As atividades antrópicas tem alterado os ciclos biogeoquímicos, levando a alterações ambientais em todo o planeta. Já observamos o aquecimento da Terra em 1,09ºC com profundos impactos sobre a vida na Terra. A principal causa das mudanças climáticas é a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera. Apesar de, globalmente, a queima de combustíveis fósseis liderar as emissões, as mudanças de uso da terra e agricultura têm grande importância nesse processo, representando cerca 22% das emissões globais em 2019. O Brasil é o quinto maior emissor mundial, com 2,16 PgCO2e emitidos em 2020 sendo que as mudanças de uso da terra representaram 46% do total de emissões do país. As projeções de aumento da temperatura global preveem consequências catastróficas e uma janela de tempo para ação muito limitada, tornando imprescindível ações imediatas para a redução de emissões e mitigação das mudanças climáticas. Umas das estratégias de mitigação mais abordadas é a restauração ecológica com o potencial de sequestrar carbono atmosférico e estocá-lo na vegetação, assim como reduzir os impactos das mudanças ambientais em nível local. No Cerrado, o passivo ambiental, aquilo que deve ser restaurado por lei, é de 6,1 Mha, muito abaixo dos 20 Mha indicados como prioridade para restauração no bioma. Estima-se que a restauração desses 20 Mha possa sequestrar 20,6 GgC além de garantir serviços ecossistêmicos e preservar a biodiversidade. Ainda assim, entender como esses sistemas restaurados podem interagir com um novo clima em que os vetores de degradação, como o fogo, se tornam cada vez mais intensos e frequentes se faz necessário. Dessa forma, o objetivo central desse trabalho é modelar os impactos da restauração sobre o clima local do bioma Cerrado, assim como modelar como as dinâmicas de degradação por fogo podem afetar as áreas restauradas. Para isso, usaremos o modelo climático Conformal-Cubic Atmospheric Model acoplado ao modelo de uso da terra CSIRO Atmosphere Biosphere Land Exchange para projetar variáveis climáticas locais no Cerrado, até 2050, para três cenários de uso da terra (Full-restoration, Partialrestoraton e No-restoration). Esse é um modelo de acesso livre que tem sido amplamente utilizado para downscaling dinâmico de modelos climáticos globais. Os resultados gerados serão utilizados para projetar a disponibilidade de combustível e a probabilidade de incêndios no Cerrado nos próximos 30 anos a partir de Geografically Weighted Regressions e estatística Bayesiana.