Efeitos da pirodiversidade e severidade do fogo na diversidade taxonômica, funcional e no uso do espaço por mamíferos no Cerrado.
Fogo, savana tropical, herbívoros, carnívoros, marsupiais, roedores, ecologia de comunidade.
Distúrbios como o fogo alteram a distribuição espacial e temporal dos recursos utilizados pela fauna e geram heterogeneidade ambiental. Consequentemente, animais podem modificar o uso do espaço em resposta às mudanças provocadas pelo fogo. Tais respostas aos efeitos do fogo podem depender das características funcionais das espécies, afetando as comunidades taxonômica e funcionalmente. Nós usamos regressões lineares para testar a hipótese da “pirodiversidade gera biodiversidade” para métricas taxonômicas e funcionais das comunidades de mamíferos. Nós também aplicamos modelos de ocupação para avaliar como a variação espaço-temporal no regime do fogo afeta o uso do espaço por médios e grandes mamíferos. Além disso, nós verificamos o efeito da severidade do fogo nas comunidades de pequenos mamíferos não voadores que habitam matas de galeria. Nossos resultados demonstraram que a riqueza taxonômica e funcional de mamíferos aumentou com a pirodiversidade, mas a diversidade taxonômica e a dispersão funcional de mamíferos foram maiores em valores intermediários de pirodiversidade. No nível populacional, nós observamos efeitos espécie-específicos do regime do fogo sobre o uso do espaço por mamíferos. Chrysocyon brachyurus usou mais intensivamente áreas pirodiversas e com maior proporção de área recém-queimada. Já Tapirus terrestris preferiu utilizar áreas com menor pirodiversidade. O uso do espaço por cervídeos não foi afetado pelo mosaico de fogo. Em matas de galeria, a severidade do fogo afetou positivamente a diversidade taxonômica e a dispersão funcional de pequenos mamíferos. No entanto, este efeito ocorreu à custa de forte redução nas espécies dependentes de habitats florestais em matas severamente queimadas. Este estudo contribui para reduzir as lacunas no conhecimento dos efeitos do fogo sobre médios e grandes mamíferos neotropicais e reforça que o manejo do fogo deve ser feito considerando o contexto local e as respostas espécie-específicas da fauna. Além disso, nós enfatizamos a necessidade de proteger habitats sensíveis ao fogo contra incêndios severos. Diante do aumento na frequência de eventos extremos de incêndios, existe o risco de perdemos componentes fundamentais da biodiversidade não adaptada ao fogo.