Uso do habitat preservado e agrícola por espécies de Scarabaeoidea (Insecta: Coleoptera) no Cerrado
Deslocamento, marcação e recaptura, cerrado sensu stricto, soja, rola-bosta, coró.
Os besouros rola-bosta (Scarabaeidae: Scarabaeinae) utilizam várias fontes de alimento, sendo as fezes de mamíferos o recurso mais comum. Devido aos seus hábitos alimentares e forma como manipulam e nidificam no recurso, eles promovem uma série de serviços ecossistêmicos, como a ciclagem de matéria orgânica, dispersão secundária de sementes, controle de parasitas, auxiliam na aeração do solo, dentre outros. Há cerca de 7.000 espécies descritas e 726 ocorrem no Brasil, sendo que no Cerrado, eles estão distribuídos pelas várias fitofisionomias que ocorrem no bioma, desde as mais abertas formadas por gramíneas e herbáceas, até as mais densas, que são formações florestais, e este grupo possui período de atividade sincronizado à sazonalidade do bioma, pois no período chuvoso são mais ativos e abundantes. Pouco se sabe sobre os aspectos populacionais e a capacidade de movimentação dos indivíduos em Scarabaeoidea, desta forma o presente trabalho teve como objetivo verificar a capacidade de movimentação de quatro espécies desta superfamília, e a tese foi dividida em dois capítulos. O primeiro capítulo investigou, utilizando a técnica de marcação e recaptura, a capacidade de movimentação de Oxysternon palemo, Coprophanaeus sptizi e Diabroctis mirabilis no cerrado sensu stricto, além de avaliar parâmetros populacionais das três espécies ao longo de um ano. Todos os indivíduos foram capturados exclusivamente no período chuvoso, e as abundâncias, recrutamentos e taxas de sobrevivência foram mais expressivas entre os meses de novembro e janeiro nas três espécies. Oxysternon palemo apresentou a maior abundância, seguido de C. spizi e D. mirabilis, e os deslocamentos máximos também seguiram esta ordem. Oxysternon palemo foi dominante no cerrado sensu stricto e suas altas abundâncias e capacidade de deslocamento possivelmente amenizam o efeito da fragmentação, porém o mesmo não foi observado para D. mirabilis, que teve as menores abundâncias e apenas um movimento registrado, de curta distância. O segundo capítulo investigou a capacidade de deslocamento de Phyllophaga capillata em campo em plantio de soja, ao longo do período de revoada desta espécie e, a atividade de voo desta espécie em laboratório. A maior parte dos adultos foram recapturados à menor distância estabelecida no estudo, 50 m e apenas seis indivíduos machos foram recapturados à maior distância possível, de 250 m. O experimento de atividade de voo em laboratório apontou que a maioria dos indivíduos (cerca de 70% dos machos e 53% das fêmeas) apresentou o comportamento de deixar o solo e voar diariamente. Com deslocamentos de 250 m em uma noite, é possível que estes insetos colonizem novas propriedades ou talhões de grandes plantios de soja no início do período chuvoso e se dispersem pelas plantações ao longo da revoada desta espécie.