AGRONEGÓCIO DO CAFÉ NO TERRITÓRIO DE IDENTIDADE DA BACIA DO RIO GRANDE, BAHIA: territorialização, mundialização e contradições.
Financeirização fundiária; Desigualdade socioespacial; Cafeicultura irrigada; Trabalho rural precarizado; Reestruturação produtiva.
O tema dessa pesquisa de tese analisa, sob uma perspetiva crítica e multiescalar, os processos de territorialização do agronegócio cafeeiro no oeste baiano, com foco nas articulações entre capital global, reestruturação produtiva e os conflitos socioespaciais resultantes. A investigação insere-se na tradição da Geografia Crítica brasileira e dialoga com aportes da Geografia Agrária e da Economia Política, articulando as categorias de território, mundialização, financeirização da terra e desigualdade. A pesquisa investiga os impactos da cafeicultura irrigada intensiva na reorganização do espaço agrário da Bacia do Rio Grande, com ênfase na concentração fundiária, apropriação hídrica, precarização do trabalho rural e invisibilização de comunidades tradicionais. A análise tem fundamentação empírica, incluindo levantamento estatístico, cartografia temática, entrevistas com diferentes agentes da rede produtiva e visitas de campo. Os dados reunidos buscaram demonstrar que a cafeicultura, embora apresentada como vetor de desenvolvimento regional, reproduz desigualdades históricas sob novas formas tecnológicas e mercantis. A rede produtiva do café é caracterizada por assimetrias entre grandes produtores empresariais, trabalhadores precarizados, fornecedores transnacionais e um Estado frequentemente capturado por interesses do agronegócio. A lógica da mundialização do capital subordina o território às exigências externas, convertendo-o em plataforma funcional ao mercado global de cafés especiais, ao custo de conflitos territoriais, exclusão social e degradação ambiental. A pesquisa também buscará evidenciar que o discurso da sustentabilidade e das Indicações Geográficas, embora promovido como diferencial competitivo, serve muitas vezes para legitimar um modelo excludente e financeirizado de apropriação territorial. Nesta etapa da pesquisa, tem-se resultados parciais, com análise da formação socioespacial do território, do avanço da cafeicultura irrigada e das contradições socioambientais que a acompanham. As visualizações cartográficas e os dados quantitativos — como produção agrícola, uso de agrotóxicos, resgates por trabalho análogo à escravidão e exportações — são integrados a uma leitura crítica que valoriza a escuta dos sujeitos subalternizados e a pluralidade das experiências territoriais. O cronograma futuro inclui a redação dos cinco artigos que comporão a tese, a socialização dos resultados e a finalização para defesa até fevereiro de 2027. A tese buscará evidenciar que a territorialização do café no Cerrado baiano constitui um caso paradigmático da reestruturação produtiva subordinada à mundialização, marcada por uma “geografia da exclusão” e pela negação de direitos aos grupos historicamente marginalizados. A pesquisa reafirma o compromisso da Geografia com a denúncia das desigualdades e com a construção de alternativas ancoradas na justiça socioambiental, na equidade territorial e na valorização das múltiplas territorialidades que resistem ao avanço da monocultura do capital.