Interpretação epistemológica dos desacordos em estudos de clima: dos olhares kuhniano e lakatosiano
climatologia ; climatologia geográfica ; epistemologia ; Kuhn ; Lakatos ; meteorologia ; modelos metateóricos ; mudanças climáticas ; paradigma rítmico
O campo epistemológico da Filosofia pode trazer para a ciência climatológica um considerável mundo de discussões metateóricas e reinterpretações daquilo que nela se pratica. Esta Dissertação está centrada no desenvolvimento das pesquisas no âmbito das ciências atmosféricas, com foco na Climatologia e Climatologia Geográfica – sendo que entendemos que o avanço conjunto dessas ciências fez surgir variados ramos, correntes de pensamento e metodologias. Neste sentido, foi partindo da Meteorologia, campo pautado na Física, que a Climatologia surgiu e se desenvolveu. Contudo, com o tempo, um caráter geográfico se fez necessário, e conferiu aos geógrafos (por exemplo, brasileiros) uma possibilidade de conquistar destaque e protagonismo entre demais pesquisadores. Nossa hipótese é que, para compreender detalhes desse processo e alguns momentos-chave, a aplicação de metateorias é um recurso decisivo. E, no caso, os modelos de Thomas Kuhn e de Imre Lakatos ganham saliência por serem perspectivas epistemológicas célebres e, a nosso juízo, potentes para a discussão a ser aqui apresentada; qual seja: a manifestação de abordagens discordantes dentro da comunidade de experts. A fim de demonstrar a versatilidade das metateorias kuhniana e lakatosiana, a projetamos sobre dois casos que são pertinentes, na medida em que, enquanto um deles ilustra o desacordo em termos de leitura metodológica (uma controvérsia internalista, poderíamos dizer), o outro o exemplifica em termos de visão axiológica (uma controvérsia que pode ter ingredientes externalistas, portanto). Para isso, primeiramente, avaliamos o caso dos paradigmas clássico e dinâmico na Climatologia. Depois, damos atenção particular ao tema do aquecimento global – fenômeno igualmente atraente para uma análise calcada em filosofia da ciência, posto que as questões climáticas têm ganhado uma forte notoriedade. Com este trabalho pretendemos contribuir a que a comunidade de geógrafo(a)s físico(a)s especialmente voltado(a)s para os estudos de clima, se interessem mais pelos fatores epistemológicos que estão incutidos em seu campo de atuação. Esta seria uma maneira de se precaver de visões simplistas acerca do que acontece em sua comunidade – em especial, as dinâmicas de conflito.