NEGRO (NE.GRO): REPRESENTAÇÕES DISCURSIVAS CRÍTICAS DE COR, RAÇA E RACIALIDADE EM DICIONÁRIOS BRASILEIROS (1939 -2022)
Estudos Críticos do Discurso. Dicionários. Racismo Linguístico.
A presente pesquisa busca analisar discursivamente verbetes sobre negritude em dicionários brasileiros de língua portuguesa do último século (1930 – 2020), problematizando as questões raciais no Brasil, bem como discutir a negritude e a questão racial, a partir da análise do contexto de produção de dicionários no país para enfim propor caminhos e orientações para outras explicações em uma perspectiva antirracista. Os corpora analisados foram coletados em bibliotecas, a saber: Academia Brasileira de Letras, Biblioteca do Senado e a Biblioteca Central da Universidade de Brasília, em que foram encontrados dez dicionários de língua portuguesa, um representativo de cada década, a coleta de dados ocorre conforme postulado por Bauer e Aarts (2008) e Gill (2008). Os verbetes analisados são Branco, Pardo, Parda, Preta, Preto, Negra e Negro, por representarem as categorias de autoidentificação racial oficial, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Os verbetes de Racismo, Raça e Quilombo foram analisados para contribuir para a explanatória crítica sobre a questão étnico-racial. A fundamentação teórica da pesquisa está voltada para os Estudos Críticos do Discurso (ECD), com a abordagem de Norman Fairclough (2016 [1992], 2003, 2012), Chouliaraki e Fairclough (1999), para os estudos da Linguística Sistêmico-Funcional (LSF), de Halliday (1994) e Halliday e Mathiessen (2004), e o sistema de avaliatividade de Martin & White (2005), assim como as análises das metáforas Lakoff e Johnson (2003). Para a compreensão do racismo em nossa sociedade, Fernandes (2008), Devulsky (2021), Guimarães (2009, 2012); intersseccionalidade, Akotirene (2019), Gonzalez (2020), Davis (2016), hooks (2017, 2022), Kilomba (2019); estudos sobre a branquitude, Bento (2022), Schucman (2012, 2023); decolonialidade, Carneiro (2005, 2011), Maldonado-Torres (2018), Nascimento (2019), Quijano (2005), Antônio Bispo dos Santos (2005); Por fim, a compreensão da organização de dicionário, Borba (2003), Vilarinho (2013), Faulstich (2010; 2013; 2014). Para tanto, foram analisados os aspectos ideológicos e as formas simbólicas (Thompson, 1995). Essa pesquisa foi realizada a partir dos significados acionais do discurso, conforme Fairclough (2003). Os resultados revelam que mulheres negras (Pretas e Pardas) são explicadas nos dicionários de modo a serem sexualizadas; Negro é apresentado de modo a ser avaliado com Estima Social negativa; O Pardo é explicado de modo a ter a sua identidade negra embranquecida, avaliado negativamente por meio de estima social e complexidade; Negro, para além de ser definido como toda a população negra, também tem estima social negativa, como escravo e muito trabalhador nos dicionários. O Branco, por sua vez, é apresentado como patrão, senhor de escravo e ingênuo, demonstrando uma estima social positiva. No entanto, quando verificamos os verbetes de Racismo, nos dicionários, por meio de pressuposições (Fairclough, 2003), não é identificado quais são os grupos de pessoas que oprimem e quais são os oprimidos, dissimulando (Thompson, 1995) a desigualdade racial.