ESCRITA AUTOBIOGRÁFICA e PERMANÊNCIA ESTUDANTIL NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA: contribuições da Antroposofia e da Autoria Criativa no processo de tornar-se estudante no Ensino Superior
Escrita Autobiográfica; Antroposofia; Saúde Mental; Transformações discursivo-identitárias
Desde que nascemos começamos a escrever a nossa vida: bio+grafia. No meio acadêmico, as (auto)biografias são objeto de pesquisa a partir de diferentes perspectivas e em diferentes áreas. Nesta tese, a perspectiva que escolhi foi a da Antroposofia, que nos convida a uma concepção ampliada de ser humano, constituído de corpo, alma e espírito e em diálogo com os estudos críticos de linguagem. O desenvolvimento, por sua vez, ocorre no âmbito do pensar, do sentir e do agir/querer e segue um ritmo de sete anos. Diante da conjuntura atual, com índices alarmantes de questões de saúde mental entre jovens e a necessidade de um cuidado sistêmico, este estudo propõe, portanto, um diálogo entre a Antroposofia (STEINER, Rudolf; 1982; 1983; LIEVEGOED, Bernard. 1994; 2007; BURKHARD, Gudrun; ROMANELLI, Rosely Aparecida; BACH Jr. Jonas; MARASKA, Elaine) e a Escrita Criativa Autoral (DIAS; COROA; LIMA, 2018). Para tanto, foi criado um projeto de extensão intitulado “Eu universitário: escrita autobiográfica e autoria da vida”, oferecido a estudantes do curso de Letras/Português da Universidade de Brasília, com o objetivo de realizar atividades de escrita focadas em revisitar as percepções criadas sobre si, valorizar o vivido e configurar a própria realidade (BACH, Jr. Jonas, 2019). A base teórica que sustentou a elaboração das atividades foi a da Biografia Humana (LIEVEGOED, Bernard. 1994; 2007; BURKHARD, Gudrun, 2002; 2010; 2015; O´NEIL, Geroge; O’NEIL, Gisela. 2014). Este projeto foi desenvolvido sob os pilares metodológicos do Gecria (Grupo de Pesquisa Educação Crítica e Autoria Criativa-UnB/CNPq), que operam em três movimentos (auto)etnográficos: impulso-intuição-pulsação (Dias, 2021). Tanto as autopercepções quanto a narrativa que cada pessoa faz de sua autobiografia realizam-se por meio da linguagem e, então, os dados gerados foram analisados à luz dos Estudos Críticos da Linguagem, com ênfase na autoria criativa (DIAS, Juliana de Freitas. e outras, 2021, 2024; DIAS, Juliana de Freitas. 2024; QUEIROZ, Atauan, 2020; OLIVEIRA, Sila Marisa, 2021; 2024; RAMOS, Camila Moreira; 2023; 2025.). Dentre os principais achados da pesquisa, destaco: (a) a identificação de aspectos arquetípicos da fase biográfica; (b) transformações discursivo-identitárias em relação à tomada de consciência sobre si e sobre a autoria da vida e dos textos; (c) o despertar do agenciamento próprio com vistas a fazer escolhas promotoras da saúde mental e (d) transformações referentes à relação com a escrita e o resgate da autoconfiança. Portanto, o desenvolvimento desse Projeto de Extensão e a realização dessa pesquisa revelaram-se como experiências importantes, as quais podem servir para subsidiar novas políticas de permanência no âmbito da gestão universitária e podem inspirar ações coletivas para promoção de autoconhecimento e autocuidado nas universidades.