Avaliação de biomarcadores preditivos da reativação da doença de Chagas em pacientes submetidos a transplante cardíaco.
Doença de Chagas; Transplante de coração; Perfil de saúde; Biomarcadores.
Introdução: A doença de Chagas (DC) ainda representa um dos principais motivos de insuficiência cardíaca no Brasil, afetando majoritariamente indivíduos em situação de vulnerabilidade socioeconômica. Em fases avançadas, o transplante cardíaco é a principal alternativa terapêutica, mas a imunossupressão necessária eleva o risco de reativação do Trypanosoma cruzi. Embora essa complicação seja clinicamente relevante, são escassos os estudos que comparam os perfis clínicos e desfechos de pacientes com DC e outras miocardiopatias submetidos ao transplante. Objetivo: Avaliar os biomarcadores preditivos da reativação da doença de Chagas em pacientes submetidos a transplante cardíaco. Materiais e métodos: Estudo retrospectivo com 326 pacientes transplantados entre 2007 e 2023 em um centro público do Distrito Federal. Foram incluídos 201 pacientes com DC e 125 com outras etiologias (idiopática, isquêmica, dilatada e outras). Variáveis sociodemográficas, comorbidades e causas de óbito foram analisadas estatisticamente com testes do qui-quadrado, exato de Fisher, Monte Carlo (50.000 simulações) e regressão logística (α=5%). Resultados e discussão: A DC predominou entre homens de pele parda, com baixa escolaridade, origem em estados endêmicos (Bahia, Goiás e Minas Gerais) e envolvimento em trabalho braçal. As demais etiologias apresentaram perfis distintos: a miocardiopatia isquêmica foi associada ao sexo masculino, idade avançada e história de iam e dislipidemia; a idiopática, à obesidade, AVE/AIT e etilismo; e a dilatada, ao diabetes pós-transplante. A reativação da DC ocorreu em 31,8% do pacientes e teve associação significativa com idade entre 40–59 anos, cor parda, AVE/AIT e Diabetes tipo 2 pós-transplante. Apesar da gravidade, a reativação apresentou menor taxa de mortalidade proporcional (26,6% vs. 50,4%), sugerindo benefício do diagnóstico precoce. Quanto aos óbitos, 86 ocorreram no grupo chagásica (65,6%), com associação significativa a causas infecciosas e cardiovasculares. As demais etiologias apresentaram mortalidade proporcionalmente menor e causas mais variadas. Conclusão: A DC se destacou como a etiologia com maior carga de vulnerabilidade clínica e social e maior concentração de óbitos. Os achados indicam a necessidade de estratégias específicas para o monitoramento e manejo desses pacientes, considerando não apenas os aspectos clínicos, mas também os determinantes sociais da saúde que influenciam diretamente os desfechos pós-transplante.