Cientistas nordestinas e o processo de migração inter-regional: a trajetória acadêmica para vivenciar a pós-graduação em Psicologia
Cientistas nordestinas; migração inter-regional; pós-graduação em Psicologia.
A trajetória acadêmica das mulheres revela uma dinâmica de constante luta por direitos e contra a violência de gênero. A hegemonia masculina e a estrutura das Universidades criam um ambiente que favorece a marginalização feminina, restringindo historicamente o acesso, a permanência e o reconhecimento. Além disso, a centralização das Universidades e dos programas de pós-graduação nos grandes centros do país impõe um entrave geográfico que torna a migração quase necessária para o acesso ao conhecimento, especialmente para as mulheres nordestinas. Diante desse cenário, o estudo se propôs a compreender a trajetória acadêmica das cientistas nordestinas na pós-graduação em Psicologia. Para isso, adotou uma abordagem qualitativa, de natureza descritiva, utilizando a metodologia da História Oral, com foco na história oral temática. As informações foram obtidas por meio de nove entrevistas com pesquisadoras, uma de cada estado do Nordeste. A análise foi realizada a partir da perspectiva da Hermenêutica da Profundidade e estruturada em dois artigos. O estudo 1 buscou identificar as particularidades que produziram a migração inter-regional para as estudantes nordestinas de pós-graduação em Psicologia e analisar o processo formativo vivenciado na pósgraduação na perspectiva migrantes nordestinas. Esse estudo revelou que as principais razões para a migração incluem a busca por uma boa formação teórica, a oportunidade de obter bolsas de estudo e a qualidade dos programas de pósgraduação. Destarte, observou-se a vivência de discursos xenofóbicos dentro das instituições. O estudo 2 objetivou revelar a experiência de cientistas nordestinas que migraram na Academia, focando nas interações entre gênero, migração e pósgraduação. As narrativas de vida das participantes revelam barreiras simbólicas e práticas que prejudicam o reconhecimento e a ascensão profissional das mulheres, destacando o impacto do patriarcado e a intensificação dessas barreiras pela distância das redes de apoio. A maternidade agrava a desigualdade devido à falta de suporte institucional. Em resumo, os estudos demonstram que a trajetória das cientistas nordestinas migrantes na pós-graduação é marcada por motivações como a busca por avanço acadêmico e profissional, mas também enfrenta desafios como a xenofobia, as barreiras de gênero e a falta de suporte para a maternidade. Assim sendo, ressalta-se necessidade de políticas educacionais que buscam a equidade científica entre as regiões do Brasil, bem como políticas afirmativas interseccionais que visem fortalecer as mulheres nordestinas na pós-graduação em psicologia. O estudo sugere a necessidade de políticas institucionais interseccionais, como ampliação de licenças e flexibilização de horários para mães e pais, visando a democratização do ensino.