Processos de Produção de Significado e Resistência na Trajetória de Pessoas Não-Binárias
Psicologia Cultural Semiótica, Resistência, Processos de Produção de significado, Teoria Queer, Estudos Decoloniais
A Psicologia, buscando evitar o solipsismo, tem desenvolvido abordagens críticas que reconhecem a complexidade inerente ao desenvolvimento psicológico humano e que destacam a interdependência entre subjetividade e cultura como unidade de análise. Ao integrar a Psicologia com outras Ciências Humanas e Sociais, essas abordagens promovem análises mais profundas sobre o desenvolvimento humano e temas contemporâneos como preconceito, discriminação, desigualdade e poder, examinando como esses fatores perpassam o desenvolvimento psicológico. Tendo isso em vista, este projeto utiliza a Psicologia Cultural Semiótica como principal abordagem de análise e interpretação dos fenômenos humanos, articulando-a com a Teoria Queer e os Estudos Decoloniais em busca de oferecer novas perspectivas sobre o desenvolvimento humano. A Teoria Queer e os Estudos Decoloniais destacam as dinâmicas de poder que reproduzem opressões e desafiam paradigmas dominantes. Ambas questionam identidades normativas e binárias, valorizando a pluralidade e complexidade das experiências humanas e promovendo a resistência às normas hegemônicas estabelecidas. Assim, nosso objetivo é analisar a produção de significados sobre modos de existir no mundo de pessoas não-binárias, que se situam fora do padrão binário cisheteronormativo. A investigação busca entender como essas identidades desafiam e resistem às normas modernas e coloniais, contribuindo para uma compreensão multifacetada da diversidade humana e dos processos de formação do self, de significados e modos de ser no mundo. Para isso, será utilizada a metodologia qualitativa com enfoque idiográfico. Essa abordagem permitirá uma análise profunda da produção de significados sobre modos de existir fora do padrão cisheteronormativo ocidental moderno e como os processos de resistência às normas sociais permeiam as trajetórias de desenvolvimento de pessoas não-binárias. Dessa forma, serão realizadas entrevistas semiestruturadas e um grupo focal com até quatro pessoas adultas (maiores de 18 anos) que se identificam como não-binárias e que residem ou já residiram por um período significativo durante adolescência e/ou adultez no Distrito Federal, Brasil. Os procedimentos de construção dos dados seguirão cinco fases: 1. Contato com potenciais participantes; 2. Mapeamento de trajetórias, investigando como questões relacionadas a gênero e lesbianidade permeiam suas trajetórias e contribuem para a construção de seus conceitos de si como pessoas não-binárias; 3. Análise das relações familiares na produção de sentido e formação do self; 4. Investigação das redes de suporte LGBTQIAPN+ dos participantes, compreendendo as dinâmicas de produção de significado e resistência coletiva; 5. Discussão dos apontamentos e análises feitas ao longo do estudo, de forma individual ou coletiva. Essa pesquisa, assim, poderá contribuir significativamente para a ampliação e aprofundamento discussões teórico-empíricas sobre corporeidade, resistência e desenvolvimento humano na Psicologia, a partir da triangulação entre as epistemologias Cultural Semiótica, Queer e Decolonial.