Análise de lacunas de conservação de aves endêmicas e ameaçadas de extinção no Cerrado brasileiro
Aves; Cerrado brasileiro; Conectividade; Conservação; Espécies ameaçadas; Análise de lacunas
Apesar de ser considerado um hotspot de biodiversidade, o Cerrado brasileiro enfrenta sérias ameaças, principalmente devido à expansão agrícola, resultando na perda e degradação de habitats naturais e fragmentação da paisagem, comprometendo severamente a biodiversidade no bioma. Apesar de sua importância biológica, apenas uma pequena fração do Cerrado é legalmente protegida, sendo as unidades de conservação frequentemente pequenas e desconectadas. Neste estudo, avaliei a representatividade da rede de áreas protegidas federais e estaduais, incluindo terras indígenas, na conservação das 65 espécies de aves endêmicas e ameaçadas no bioma, identificando áreas cruciais para complementaridade, considerando a conectividade funcional na seleção para garantir uma proteção adequada das espécies. Gerei mapas de distribuição potencial das espécies com base na adequação ambiental, sobrepondo-os com mapas de áreas protegidas, e selecionei áreas complementares considerando metas e pesos de acordo com o nível de ameaça e endemismo para três cenários de conservação. O primeiro cenário considerou apenas unidades de conservação de proteção integral, o segundo considerou, além destas, unidades de uso sustentável, e o terceiro considerou unidades de conservação em ambas as categorias, bem como terras indígenas. Os resultados indicam que o sistema de áreas protegidas no Cerrado brasileiro é insuficiente para garantir uma proteção adequada das espécies, com a maioria, 95,4%, classificada como lacunas parciais e apenas 4,6% cobertas, com uma proteção média das espécies de apenas 14,5%. As terras indígenas, apesar de não terem a conservação da biodiversidade como seu objetivo primário, desempenham um papel importante na representação dessas espécies. A região Matopiba, a porção norte do Cerrado formada pelos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia, atualmente experimentando a maior pressão de desmatamento no bioma, concentrou a maioria das áreas complementares propostas. Como proposta, sugere-se a integração colaborativa entre os setores da sociedade para implementar áreas propostas pelo estudo, preferencialmente aquelas selecionadas no primeiro cenário, considerando apenas unidades de conservação estritas. A seleção de áreas complementares incorporou áreas mais compactas, com mais remanescentes de vegetação nativa e mais próximas das áreas protegidas existentes, potencialmente facilitando sua implementação. Além de estabelecer terras públicas ou privadas como áreas protegidas, é essencial que os proprietários de terras privadas cumpram ativamente suas obrigações de acordo com a legislação ambiental, junto aos esforços públicos para garantir a eficácia das políticas públicas para a proteção e recuperação da vegetação nativa.