"Estudos sobre a Composição de peixes e a Assimetria Flutuante na sub-bacia do Alto Rio Tocantins"
Bacias brasileiras; Ictiofauna; Novos registros; Taxonomia
A bacia Tocantins-Araguaia é a maior bacia exclusiva do território brasileiro e pode ser dividida em três trechos principais: o Alto Tocantins, o Baixo Tocantins e o Araguaia. Atualmente, são conhecidas 751 espécies para esta bacia, com muitas novas espécies sendo descritas ao longo dos anos, como Characidium kalunga, entre outras. O objetivo desta pesquisa é caracterizar e inventariar a ictiofauna da sub-bacia do Alto Rio Tocantins, preenchendo as lacunas amostrais existentes, especialmente nas regiões próximas ao Distrito Federal, bem como utilizar a assimetria flutuante para testar seu poder explanatório em detectar impactos antrópicos na bacia. Para o levantamento das espécies nesta sub-bacia, foram realizadas visitas a coleções, levantamento bibliográfico e coletas foram conduzidas ao longo da sub-bacia do Alto Rio Tocantins, desde os limites desta sub-bacia no Distrito Federal até os limites ao norte, no Estado do Tocantins. A partir do levantamento bibliográfico, materiais de coleção observados e coletas feitas foram registradas 491 espécies distribuídas em 11 ordens, 42 famílias e 201 gêneros. Do total de espécies, 469 espécies já haviam sido identificadas anteriormente para esta sub-bacia em outros trabalhos científicos, no entanto, 22 espécies permaneceram indeterminadas ao nível de espécie, correspondendo possivelmente a táxons novos. Do total, 70 espécies foram registradas nos materiais de coleção examinados, e 141 espécies coletadas e depositadas na Coleção Ictiológica da Universidade de Brasília. As ordens Characiformes e Siluriformes foram as mais representativas, com 240 espécies (49%) e 146 espécies (30%). Nas coletas conduzidas foram capturadas três espécies exóticas para a sub-bacia do Alto Tocantins: Poecilia reticulata, conhecida popularmente como Guppy, foi coletada em Brasília-DF no riacho Votorantim; Xiphophorus hellerii, conhecida como peixe espadinha, coletada no Distrito Federal no córrego Ouro; e Coptodon rendalli (Boulenger, 1897), conhecida como tilápia, foi coletada em Brasília-DF. Ao longo das coletas realizadas foi possível notar diversos impactos às populações de peixes causados pelo ser humano. A degradação ambiental pode afetar as populações de organismos de várias formas, levando em último caso à mortalidade em massa. No entanto, efeitos mais sutis, ou subletais, podem ser detectados, incluindo altas taxas de anomalias morfológicas. Neste sentido, a verificação da assimetria flutuante (AF) em populações de organismos pode ser relevante para o monitoramento de impactos ambientais. Assim, o objetivo da segunda parte desta pesquisa foi investigar diferenças morfológicas derivadas da assimetria flutuante em diferentes populações que se encontram em áreas com níveis de preservação distintos. Para essa investigação, foram selecionadas drenagens do Rio São Bartolomeu, no Alto Rio Tocantins. Esta drenagem inclui os riachos Indaiá e Brejão, ambos apresentando parte da sua extensão com diferentes níveis de preservação. Foram amostrados dois pontos, um antropizado e um preservado, em cada riacho. A espécie Moenkhausia aurantia. Foram tomadas medidas merísticas e morfométricas das estruturas selecionadas em 343 indivíduos. Foram observados índices de assimetria flutuante significativamente diferentes para o comprimento da nadadeira peitoral nos espécimes de M. aurantia provenientes dos riachos Indaiá e Brejão, com o riacho Indaiá apresentando espécimes com índices de AF maiores. Entretanto, nem a qualidade do ambiente nem a interação entre riacho e qualidade do ambiente foram boas preditoras para as diferenças observadas. Já para o comprimento da nadadeira pélvica, houve diferenças significativas nos valores de AF entre espécimes de locais antropizados e preservados, sendo significativamente maiores os índices no primeiro. Para os dados de contagem (raios da nadadeira pélvica, raios da nadadeira peitoral, número de poros do pré-opercular e o número de escamas da linha lateral), foram testados quatro modelos pela análise de Modelo Linear Generalizado (GLM). Dentre os caracteres analisados, apenas os raios da nadadeira pélvica não apresentaram diferenças significativas entre os modelos testados. Dessa forma, com essa pesquisa foi possível verificar a relação da assimetria flutuante com a variação morfológica das populações. Essa ferramenta mostrou-se eficaz para a investigação de variações subletais nas populações de peixes, revelando a influência das condições ambientais sobre a morfologia dos indivíduos e possibilitando um monitoramento mais detalhado dos impactos ambientais.