"ESTABILIZAÇÃO DE EMULSÕES UTILIZANDO LIGNOSSULFONATO: UMA ABORDAGEM SUSTENTÁVEL NO CARREAMENTO DO PRAZIQUANTEL"
Esquistossomose, Lignossulfonato, Emulsões Múltiplas, Praziquantel.
A esquistossomose, que afeta cerca de 230 milhões de pessoas em países em desenvolvimento, é tratada exclusivamente com praziquantel, um fármaco eficaz e de baixa toxicidade. No entanto, o praziquantel apresenta limitações, como a ineficácia contra formas jovens do parasita e o surgimento de resistência em algumas cepas de Schistosoma. Nesse contexto, o uso de emulsões múltiplas surge como alternativa promissora, permitindo a proteção e liberação controlada de fármacos. Este estudo explora o lignossulfonato, um biopolímero anfifílico sustentável, como agente estabilizante para essas emulsões, visando tratamentos mais eficazes, seguros e ambientalmente responsáveis. Objetivos: Avaliar o potencial do lignossulfonato como surfactante alternativo, sustentável e "verde" na formulação de emulsões múltiplas contendo praziquantel. Metodologia: O lignossulfonato foi purificado por diálise, seco por spray dryer e ultrassonificado. Caracterizações físicas e químicas foram realizadas por espalhamento dinâmico de luz, FTIR, RMN, análise de rastreamento de partículas e microscopia de força atômica (AFM). As propriedades interfaciais do lignossulfonato foram avaliadas por tensão superficial, interfacial e ângulo de contato trifásico. Emulsões foram preparadas utilizando óleo de rícino e lignossulfonato nas proporções 30%/70%, 50%/50% e 70%/30% (m/m). A estabilidade foi monitorada macroscopicamente por 120 dias e analisada por microscopia confocal, antes e após a incorporação do praziquantel. Ensaios de liberação utilizando membranas de diálise também foram realizados. Resultados: A ultrassonificação reduziu o tamanho das partículas de lignossulfonato de 740,0 nm para 175,7 nm em 300 segundos, com diminuição do PDI de 0,6 para 0,2, enquanto o potencial zeta permaneceu em torno de -15,0 mV. Houve aumento na concentração de partículas de 1,91 × 10⁹/ml para 3,29 × 10⁹/ml. Resultados de AFM indicaram partículas esféricas, enquanto FTIR e RMN confirmaram a manutenção da estrutura química do lignossulfonato (tipo guaiacila) após ultrassonificação. As análises de tensão superficial, interfacial e ângulo de contato mostraram que o processo não comprometeu as propriedades hidrofílicas do lignossulfonato. Em relação às emulsões, a fração 50%/50% (óleo de rícino/água, m/m) contendo 5% de lignossulfonato estabilizou emulsões por até 120 dias. Essas emulsões foram identificadas como do tipo A/O/A, estabilizadas por efeito Pickering e gelificação do lignossulfonato. Ensaios de liberação com praziquantel apresentaram uma cinética de Primeira Ordem, com liberação de até 17,52% do fármaco em 2 horas. Conclusão: O lignossulfonato demonstrou ser um estabilizante eficaz e sustentável para emulsões múltiplas, possibilitando estabilidade por até 120 dias e uma liberação controlada do praziquantel. A formação de emulsões múltiplas A/O/A foi atribuída ao efeito Pickering e à gelificação do lignossulfonato, evidenciando seu potencial para aplicações farmacêuticas inovadoras