RDS Nascentes Geraizeiras, estratégia de resistência ao eucalipto e à mineração: “esse trem não é daqui”
Geraizeiros; Povos e comunidades tradicionais; Territórios tradicionais; Reserva de Desenvolvimento Sustentável; Cerrado.
As comunidades tradicionais Geraizeiras do Norte de Minas Gerais foram brutalmente atingidas e expropriadas em seus territórios, desde a expansão do monocultivo de eucalipto e dos projetos de mineração sobre os Gerais-chapadas (áreas mais altas e planas no Cerrado). Diante das perdas socioculturais e ambientais muitas ações vêm sendo construídas para reverter esse quadro. A criação da Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Nascentes Geraizeiras, focalizada neste estudo, fruto de uma luta desafiadora que durou mais de doze anos, foi o recurso utilizado pelas comunidades Geraizeiras para contrapor os efeitos de um modelo de “desenvolvimento” excludente, incompatível com o seu modo de vida, antagônico à sua cultura e sustentabilidade. Esta dissertação tem o objetivo de registrar e analisar a atuaçãodas comunidades Geraizeiras no processo de criação da RDS, tendo como ponto de partida o que eu conheço e vivenciei em reuniões, como membro de uma delas, mas também o registro de conversas informais, entrevistas, observação participativa, análise documental e revisão bibliográfica, atividades que foram realizadas entre os anos de 2021 e 2022. Trata-se de uma pesquisa colaborativa, realizada por mim e outros membros das comunidades envolvidas na criação da RDS, ao modo de uma escrevivência sob a inspiração de Conceição Evaristo. Construímos juntos uma linha do tempo, partindo do período anterior à criação da Unidade de Conservação (UC), descrevendo o conflito socioambiental que instaurou a luta, bem como as diferentes iniciativas e perspectivas que a orientaram na criação e implementação da RDS. Concluímos que, após a expropriação territorial sofrida em décadas passadas, hoje nossas famílias Geraizeiras se sentem seguras, pois percebem a normalidade voltando pouco a pouco no território. Nesse contexto, tem sido importante contar com o aparato do Estado para construir alternativas de futuro no território e para impedir a reincidência de projetos econômicos hegemônicos e maléficos sobre ele. Esperamos que nossa escrevivência possa produzir reflexões e inspirar outras iniciativas em prol do bem-viver socioambientalmente.