ÌGBÀMÍRÀN ÀIYÉ: O ETHOS AFRO-BRASILEIRO E A TRANSGENERIDADE NA RELIGIÃO DOS ORIXÁS.
Transgeneridade; Candomblé; Ori; Identidade de Gênero; Inclusão Religiosa
Esta dissertação investiga a transgeneridade no Candomblé, com foco nas vivências e desafios enfrentados por pessoas trans nas comunidades de terreiro, a partir do conceito de Ori na cosmologia iorubá. Ori, entendido como o “orixá pessoal” e essencial para a formação do destino individual, fundamenta-se como um princípio central para a aceitação das identidades transgêneras, reconhecendo o gênero como uma expressão sagrada e predestinada do ser. O estudo busca compreender os processos de construção, aceitação e afirmação da identidade trans dentro do terreiro, explorando questões como a legitimidade da modificação corporal e seus impactos na prática religiosa, a escolha das vestimentas, e a possibilidade de ocupação de cargos específicos no terreiro. A dissertação investiga ainda como o sistema binário de gênero influencia as práticas religiosas e o acolhimento dessas identidades, assim como as limitações impostas à participação e existência das pessoas trans dentro das atividades religiosas. O trabalho revela que, para pessoas trans, os terreiros se configuram como espaços de negociação constante entre identidade e espiritualidade, onde as normas cis centradas ainda presentes em algumas práticas religiosas desafiam ou reafirmam suas identidades de gênero. Além disso, a pesquisa examina como a presença trans no Candomblé, associada à interação com os orixás, é mediada por dinâmicas complexas de aceitação e inclusão, proporcionando um refúgio espiritual capaz de atenuar os impactos da exclusão social e da violência vivenciada fora dos terreiros. Ao explorar o papel do Candomblé como espaço de acolhimento e valorização da diversidade de gênero, a dissertação reforça a importância de uma prática religiosa inclusiva e decolonial, onde a multiplicidade de expressões de gênero é entendida como parte fundamental da essência sagrada do Ori.