TERRITÓRIOS INDÍGENAS, PLANOS DE VIDA E MUDANÇAS CLIMÁTICAS: MINHA EXPERIÊNCIA ENTRE O CHÃO DAS COMUNIDADES E A INCIDÊNCIA GLOBAL
Gestão territorial e ambiental - terras indígenas - mudanças climáticas - povos indígenas.
Nesta dissertação, sistematizo a experiência de construção de Planos de Vida nos territórios indígenas de Roraima, com foco na integração do tema das mudanças climáticas nesses mecanismos reconhecidos como planos de gestão territorial e ambiental-PGTAs. Como mulher indígena do povo Wapichana e coordenadora do Departamento de Gestão Territorial e Ambiental do Conselho Indígena de Roraima (CIR), trago neste trabalho a vivência acumulada ao longo de mais de uma década de atuação nessa temática. Recorri a metodologia da sistematização de experiências para reconstruir criticamente nosso processo de trabalho e proponho uma abordagem metodológica própria “de parente para parente”. Nesse percurso, destaquei a elaboração de quatro PGTAs em apenas dez dias como uma inovação construída da confiança e do vínculo cultural e político com as comunidades. Refleti também sobre os desafios da tradução entre os saberes indígenas e os discursos técnicos das políticas públicas e da ciência do clima. Minha reflexão de fundo propõe que a tradução não se limita à linguagem, mas envolve uma mediação sensível entre realidades diferentes. Afirmo que a verdadeira tradução é uma prática, construída com base nessa sensibilidade sem renunciar à autonomia indígena. Os planos de vida, nesse contexto, não são apenas documentos, mas um exercício contínuo de autodeterminação, planejamento comunitário e construção de pontes entre o saber ancestral e o técnico, entre o presente e o futuro. Este trabalho é uma defesa da legitimidade dos instrumentos políticos construídos por povos indígenas, e uma contribuição para que políticas públicas e agendas climáticas reconheçam e respeitem nossas vozes.