Itinerários terapêuticos de pacientes hospitalizados por covid-19: estudo de caso em um hospital público do Distrito Federal
“Itinerário Terapêutico, Covid-19, Acesso aos Serviços de Saúde, Determinantes Sociais da Saúde, Sistema Único de Saúde (SUS).”
“Introdução: A pandemia de covid-19 evidenciou que sistemas de saúde em todo o mundo precisam estar cada vez mais preparados para lidar com a complexidade das emergências sanitárias. Na perspectiva da antropologia da saúde, o itinerário terapêutico é definido como o caminho percorrido por um indivíduo e sua rede de apoio na busca pela recuperação da saúde. As decisões e experiências vivenciadas ao longo dessa trajetória ocorrem não apenas no nível institucional e são influenciadas por diversos fatores cognitivos, culturais e sociais. Estudos sobre essa temática podem ajudar a identificar os modelos de cuidado adotados por diferentes pessoas e grupos sociais em situações de adoecimento e compreender o processo de acesso aos serviços de saúde, contribuindo para o planejamento e gestão de políticas públicas mais efetivas. Objetivo: conhecer os itinerários terapêuticos de pacientes hospitalizados com Síndrome Respiratória Aguda Grave causada pela covid-19, desde o início dos sintomas até o desfecho da hospitalização. Métodos: estudo de caso integrado, com triangulação de evidências quantitativas e qualitativas obtidas a partir da análise do banco de dados brutos de um estudo observacional (coorte clínica) realizado em um hospital público do Distrito Federal. Resultados: O estudo descreveu os percursos realizados por 233 pessoas no SUS entre maio de 2020 e dezembro de 2021, além de explorar associações entre o perfil clínico e sociodemográfico e o processo de acesso aos serviços de saúde. A maioria dos participantes eram idosos, do sexo masculino, pretos e pardos, com baixo nível de renda e escolaridade e múltiplas comorbidades. Ao contrário do que costuma ser evidenciado em estudos sobre itinerários terapêuticos no SUS, a maioria dos pacientes teve acesso rápido aos serviços de saúde e não precisou peregrinar por várias unidades para conseguir atendimento. Os determinantes sociais que influenciaram a escolha do primeiro serviço buscado foram escolaridade, ocupação, região de saúde da residência e classe econômica. Já os fatores associados à agilidade de acesso ao SUS foram o tipo de serviço buscado primeiro, a gravidade e o contexto socioeconômico dos pacientes. Conclusão: os resultados deste estudo de caso podem auxiliar gestores do SUS no complexo desafio de organizar políticas que considerem a influência de determinantes sociais no acesso e utilização dos serviços de saúde, de maneira que sejam capazes de responder efetivamente às necessidades da população, especialmente no contexto das emergências sanitárias.”