“__A interseccionalidade das vulnerabilidades de famílias de crianças e adolescentes na Rede de Atenção Psicossocial do Distrito Federal__”
“_Atenção Integral à Saúde da Criança e do Adolescente. Bioética. Família. Saúde Mental.__"
“ O sofrimento psíquico na infância e adolescência pode ameaçar a capacidade e o potencial de crescimento e desenvolvimento saudável, principalmente em contextos de vulnerabilidades, onde se sobressaem as inúmeras desigualdades e iniquidades sociais no Brasil. A partir do marco legal estabelecido pela Lei no 10.216, de 2001 e a Portaria no 336, de 2002 do Ministério da Saúde, incluem como ação estratégica na ampliação do acesso em saúde mental de crianças e adolescentes, o modelo de cuidado psicossocial, territorial e comunitário. Nesse reordenamento, a família passa a assumir uma posição estratégica de cuidado junto à pessoa que sofre, compartilhando essa responsabilidade com o Estado e a sociedade. Esse estudo teve como objetivo analisar a interseccionalidade das vulnerabilidades dos familiares de crianças e adolescentes em sofrimento psíquico. Trata-se de uma pesquisa descritiva exploratória, de abordagem qualitativa e ancorada nos referenciais teóricos da bioética, políticas públicas e da saúde mental da infância e adolescência. Foram aplicadas entrevistas semiestruturadas com 14 familiares procedentes de dois serviços da Rede de Atenção à Saúde Psicossocial Infanto-Juvenil do Distrito Federal. O conteúdo das entrevistas foi submetido à análise lexical pelo uso do software Iramuteq e à técnica de análise de conteúdo de Bardin. A partir desse processo, emergiram 4 classes de palavras, que favoreceram a categorização temática, com sua respectiva distribuição percentual do corpus: Classe 1, Vulnerabilidades nas histórias de vidas das mulheres (26,44%); Classe 2, Vulnerabilidades presentes no cotidiano de cuidado das familiares (26,68%); Classe 3, Vulnerabilidades relacionadas ao acesso e o cuidado à saúde de crianças e adolescentes nos dispositivos da RAPS (25,8%) e Classe 4, Vulnerabilidades das crianças e adolescentes no ambiente escolar (21,07%). Os principais resultados reafirmam o papel histórico da mulher como principal cuidadora e histórias de vidas, de modo geral, marcadas por contextos de múltiplas vulnerabilidades. Evidencia-se uma sobreposição interseccional de raça, gênero e classe social, geradoras de vivências subjetivas e materiais de processos de opressão e de exclusão ao longo de suas trajetórias. O retraimento do Estado na proteção infanto juvenil é agravado, a partir de 2016, pela criação das novas políticas que são caracterizadas pelo desmonte dos avanços das conquistas da reforma psiquiátrica, retomando abordagens de lógica medicalizante, normalizadora, proibicionista e segregadora. A desproteção social do Estado é evidenciada pela insuficiência numérica dos dispositivos CAPSi e de outros dispositivos de cuidado da rede de atenção psicossocial e intersetorial, como também, da deficiência._