"O IMPACTO DA PANDEMIA COVID 19 NA MORTALIDADE DOS PACIENTES PORTADORES DE NEOPLASIAS HEMATOLÓGICAS EM UM HOSPITAL TERCIÁRIO DO DISTRITO FEDERAL : UMA ANÁLISE BIOÉTICА"
"Neoplasias hematológicas, COVID-19, equidade, bioética, mortalidade_"
"INTRODUÇÃO: A pandemia COVID-19 foi o maior desafio sanitário e bioético da atualidade, com um impacto significativo nas populações vulneráveis. Quando à vulnerabilidade social soma-se a vulnerabilidade biológica, os desfechos em saúde são piores. Os pacientes portadores de neoplasias hematológicas (NH) e COVID-19 apresentam maiores taxas de hospitalização, necessidade de suporte intensivo e óbito. Analisar o impacto da pandemia COVID-19 na mortalidade de pacientes com NH em um hospital público brasileiro, sob a ótica de uma bioética sul-americana e comprometida socialmente, pode oferecer subsídios para as políticas públicas e para os protocolos assistenciais hospitalares traçarem estratégias epidemiológicas específicas, com vistas à redução das iniquidades em saúde. OBJETIVOS: analisar o impacto da pandemia COVID-19 na mortalidade dos pacientes com NH em um grande hospital terciário brasileiro, avaliando a mortalidade proporcional por COVID-19, a taxa de contaminação intra-hospitalar e o acesso à terapia intensiva; correlacionar os achados aos conceitos de justiça, equidade e vulnerabilidade, de acordo com a Bioética de Intervenção e a Bioética de Proteção. MÉTOD0: coorte retrospectiva de 197 pacientes que foram a óbito no período de 1º de março de 2020 a 31 de março de 2022 no Hospital de Base do Distrito Federal. Critérios de inclusão: pacientes maiores de 18 anos, com o diagnóstico de NH de acordo com os critérios de classificação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que faleceram no período estipulado. Realizada análise descritiva simples e análise bivariada pelo teste qui-quadrado e pelo modelo de riscos proporcionais de COX, com nível de significância de 5%. RESULTADOS: Dos 197 pacientes, 54,12% eram do sexo masculino; a idade média foi de 61,5 anos; 27,12% tinham o ensino fundamental incompleto, 17,9% com ensino fundamental completo, 26,67% com ensino médio completo ou incompleto e 5,64% tinham ensino superior completo. 46,91% eram brancos e 45,36% eram pretos ou pardos; a maioria residia no Distrito Federal (77,95%). 30,77% faleceram por COVID-19 e 58,46% faleceram pela NH. Dentre os pacientes que tiveram COVID-19, 17,44% tiveram contaminação intra-hospitalar. 60,62% tiveram a indicação de terapia intensiva, mas apenas 21,47% a acessou. Os principais fatores de risco para óbito por COVID-19 foram a idade avançada, a contaminação intra-hospitalar e cor preta/parda. DISCUSSÃO: Os dados do estudo são condizentes com o encontrado na literatura mundial, ressaltando a vulnerabilidade desses pacientes para os piores desfechos na infecção por COVID-19. A internação prolongada, necessária para o tratamento das NH, aumentou o risco óbito por COVID-19. A associação entre cor preta/ parda e o risco de morte por COVID-19, que foi encontrado em todo o Brasil, traduz o impacto dos determinantes sociais da saúde e das iniquidades sofridas por essa população. A baixa taxa de acesso ao suporte intensivo ilustra o impacto da pandemia na distribuição dos recursos e tecnologias em saúde, um problema crônico do SUS. CONCLUSÃO: Os pacientes com NH no SUS são vulneráveis às complicações e óbito por COVID-19 de forma desproporcional, o que exige medidas de proteção eficiente por parte das políticas públicas e assistenciais como um imperativo bioético de justiça e equidade.