FATORES QUE INTERFEREM NA COMUNICAÇÃO INTERNA DE UM ÓRGÃO PÚBLICO: UM ESTUDO DE CASO DA SECRETARIA NACIONAL DE POLÍTICAS PENAIS
sistemas sociais; comunicação organizacional; comunicação interna; sistema penitenciário; segurança pública; policiais penais
Esta dissertação tem como objetivo analisar como os agentes públicos da Secretaria Nacional de Políticas Penais (SENAPPEN), antigo Departamento Penitenciário Nacional (Depen), órgão do Executivo Federal, avaliam a Comunicação Interna ou Comunicação no trabalho do órgão. Neste trabalho, ambas as expressões são sinônimas. Para isso, foram analisadas a qualidade e a quantidade de informações divulgadas; os meios de comunicação utilizados; e as relações interpessoais, nos níveis Intrapessoal, Interpessoal, Organizacional e Tecnológico. Além disso, a pesquisa intenta identificar possíveis barreiras que interferem na Comunicação Interna da instituição. Para a dissertação, usamos como referencial teórico elementos e conceitos fundamentais acerca do pensamento analítico, pensamento sistêmico e dos sistemas sociais de Niklas Luhmann (2006; 2016), como fontes primárias da pesquisa nesse assunto. Ademais, também incluímos autores/comentadores que estudaram sobre a fonte primária, como Neves (2015); e Kasper (2020); usados aqui, neste contexto, como fontes secundárias. Sobre Comunicação Interna e Comunicação no trabalho, foram realizadas pesquisas conceituais gerais cuja autora principal é Margarida Kunsch (2003; 2010). Kunsch também embasou conceitos importantes para a pesquisa como os de “dimensão humana na comunicação organizacional”; de “barreiras na comunicação”; e dos tipos de comunicação e influências primárias na transmissão de informações. Também foram utilizados conceitos dos pesquisadores Follet (1997), Baldissera (2011); Curvello (2005); Figaro (2008); Oliveira e Paula (2010; 2011). A pesquisa foi realizada a partir de método quantitativo, construído por meio de um formulário, que contou com 54 questões. Os resultados foram obtidos a partir de respostas voluntárias e analisados em três etapas. A primeira etapa foi a avaliação descritiva dos dados obtidos, com base na Cartografia Psicométrica adaptada para esse estudo, em que os respondentes puderam avaliar o que foi questionado, de forma geral, de um contexto péssimo (nota 1) a um contexto ótimo (nota 10). Na segunda etapa da análise, reunimos os dados a partir dos níveis de Thayer (1967): Intrapessoal, Interpessoal, Organizacional e Tecnológico, como já mencionado. Na terceira, por sua vez, foram identificadas as barreiras de comunicação, segundo Kunsch (2003), dos índices que tiveram avaliação “insatisfatória” ou “com nota média com tendência negativa”. Por fim, vale mencionar que esta dissertação pode ser considerada um desdobramento de pesquisa realizada pela SENAPPEN (2023), com apoio do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília (IP-UNB), e que constatou a comunicação entre funcionários como um fator que dificulta as relações socioprofissionais na referida Secretaria. Assim, este estudo pode colaborar com o órgão para a melhora da relação entre trabalhadores, entre a instituição e seu público interno; pode contribuir ainda com as relações interpessoais, nas questões organizacionais que impactam os agentes públicos, bem como no uso de ferramentas tecnológicas utilizadas para comunicar com esse público, além proporcionar uma melhora no ambiente organizacional, na produtividade, no comprometimento e na qualidade de vida no trabalho.
Como resultado da pesquisa quantitativa realizada na Secretaria Nacional de Políticas Penais, os agentes públicos respondentes consideraram a comunicação interna do órgão, na maioria dos itens, com nota mediana – nem muito satisfatória, nem muito insatisfatória. No entanto, nos seguintes pontos específicos: como o trabalho das pessoas se comparam; como os problemas do trabalho estão sendo resolvidos; sobre benefícios e pagamentos; o quanto há reconhecimento dos esforços; informações sobre políticas e objetivos departamentais; ações do governo que afetam o setor, relações governamentais, orçamento e situação financeira; informações sobre realizações ou falhas da instituição; o grau de conhecimento sobre o que fazem os outros colegas; a habilidade das pessoas como comunicadores e à medida que os conflitos são tratados de forma adequada - foram avaliados com avaliação média negativa ou insatisfatórias.
Nesta pesquisa, concluímos também que a forma como o órgão foi constituído, os processos históricos vividos, o posicionamento e a visão social que se tem dele e a influência de outras instituições externas também são capazes de afetar os processos comunicativos internos. No âmbito das organizações públicas, até mesmo a forma de atuação da gestão de pessoas, também faz com que haja uma complexidade nas relações de trabalho que interferem diretamente com as demais relações desse trabalhador. E reforça-se essa complexidade entre empregado e empregador, que no caso do ingresso no serviço público, inicia-se no processo seletivo, uma relação do futuro servidor com todas as etapas do concurso e a instituição.
Portanto, há complexidade nas relações de comunicação que acontecem dentro de um órgão que devem ser analisadas de forma ampla e em diferentes pontos.