O Perceptron: Ensaios sobre midiatização, subjetividade neoliberal e sujeição algorítmica.
perceptron; midiatização; governamentalidade; sujeição algorítmica; território
A midiatização é um conceito que emerge nos anos 1970, inicialmente, associado aos campos da comunicação social e das ciências políticas interessadas na questão dos efeitos da mídia na sociedade. Porém, desde o final da década de 1990, pode ser encontrado em outros campos, com deslocamentos de sentidos e outras acepções. A partir dos anos 2000 pode-se identificar a emergência de uma concepção de midiatização em que a lógica da algoritmização e do aprendizado maquínico assumem centralidade sob o paradigma da plataforma (Van Dijck, 2018 e Snircek, 2016). Este trabalho busca compreender, tendo o ensaio como método de análise e metodologia, a conformação de uma midiatização algorítmica, capaz de articular as dimensões simbólicas, gerenciais e técnicas por meio de interfaces (Virilio), se constituindo esta forma como dispositivo central da governamentalidade neoliberal que permite identificar a emergência de novos dispositivos de poder. (Foucault). Para isso, numa primeira parte, buscamos compreender a subjetividade neoliberal (Dardot; Laval, 2016), em que a figura do empreendedor de si e o paradigma de self (Cesarino, 2022) se articulam com a materialização de uma ordem técnica baseada na cibernética, que, por sua vez, produz mecanismos de sujeições a partir do aparato técnico da informática e do digital. Na segunda parte, apresentamos uma breve genealogia da midiatização como processo e, tendo a dimensão territorial como perspectiva, procuramos entender a relação entre midiatização e territorialização a partir de contribuição de Milton Santos (2008a). O estudo sinaliza para a emergência e a consolidação de um dispositivo (Foucault, 2008b) motor de uma economia política das sensações (Agre, 1994), capaz de articular aspectos da subjetividade e da objetivação técnica pela lógica da midiatização algorítmica. Propomos que presenciamos a emergência de um novo dispositivo, o perceptron, que, a exemplo do panopticon foucaultiano, se instaura como constructo capaz de articular saberes-poderes, regimes de veridição e razões de governo. Concluímos sinalizando, ainda que de forma exploratória, desdobramentos na dissonância cognitiva e desafios para a prática cidadã.