A Expressão da Máquina Consciente: governamentalidade e inteligência artificial
Nesta dissertação de mestrado, vamos analisar como as tecnologias de inteligência artificial (IA) se relacionam hoje com as modulações da gestão da vida típicas da racionalidade neoliberal, operando alterações na nossa relação com o tempo, individualizando riscos, promovendo uma cultura de antecipação e, sobretudo, tendo efeitos importantes nas nossas formas de prever e narrar o futuro. Para compreender as alteridades da realidade atual, foi necessário recuar genealogicamente na história do campo de conhecimento da IA visando entender as complexas tramas de poder que o enredam. Assim, a partir de escrita ensaística, o trabalho procurou evidenciar como as tecnologias de IA se constituem como produtos e produtores de deslocamentos amplos, constituindo fenômenos singulares de nossa atualidade. No primeiro capítulo, analisamos a inteligência artificial contemporânea como fruto de formas de pensar e descrever o próprio pensamento, numa história repleta de sonhos e disciplinas diversas, como a matemática, a física, a biologia, além da própria psicologia. No segundo capítulo, observamos como se dá este processo dinâmico e relacional da inteligência artificial com tecnologias de governo em sua atuação modulatória sobre nossas práticas e sobre nossa temporalidade. No terceiro e último capítulo, analisamos as condições de possibilidade e os acoplamentos da IA preditiva com o que Sanz e Pessoa (2020) chamam de “máquina biopolítica dos possíveis”. Essa perspectiva revela, sobretudo, um processo que reduz as possibilidades do porvir.