“Expondo As Sombras: A Fotografia Encontra a Noite nas Obras De Georges Brassaï, Claudia Andujar e Antoine d’Agata
Noturno, Imaginário, Documental, Fotografia, Realidade.
O presente trabalho analisa as obras fotográficas de Georges Brassaï, Claudia Andujar e Antoine d’Agata sob a perspectiva da estética noturna que exploram. A partir de suas obras, propomos uma linha evolutiva da linguagem fotográfica verificando de que forma seus trabalhos deslocam os imaginários associados ao noturno presentes na fotografia do século XIX, momento paradigmático de uma glorificação da luz propagada pela modernidade técnica e científica com efeitos evidentes na fotografia, seus limites e linguagem. Argumentamos que a obra dos artistas eleitos contribuiu para reconfigurar antigas dicotomias que definiam os papéis e as possibilidades das imagens que apelam a uma visualidade noturna, deslocando-as de uma função exclusivamente artística para contaminarem e complexificarem as narrativas que tramam o tecido da realidade contemporânea. Grande parte da produção fotográfica oitocentista foi forjada sob o signo de um realismo baseado em uma estética luminosa e descritiva, conformando um regime diurno de imagens cuja ressonância se sentiu em graus variados em expedientes científicos, técnicos e mesmo amadores. Uma parte minoritária, porém, sempre buscou a autoridade das imagens noturnas em expedientes artísticos que rompiam com os postulados diurnos do realismo fotográfico. No século XX, contudo, vemos uma mudança nessa dicotomia. Há uma ampliação ou um avanço das possibilidades estéticas de representação do real, sentida mesmo em gêneros tradicionalmente associados ao regime diurno, como é o caso da documentação fotográfica a qual as obras eleitas se vinculam. Nessa evolução, situamos a exploração mais contundente da interdição e do poder sugestivo da noite com elementos que escapam da busca pela visão objetiva e remetem à precariedade da luz noturna e às imagens difusas, flou, dos sonhos. A partir da análise de livros dos fotógrafos eleitos realizamos uma avaliação de seus discursos em que a lubricidade, o desvio, a ancestralidade e a margem (elementos longamente associados aos imaginários noturnos no ocidente, como veremos) são convocados a fim de complexificar a realidade contemporânea por meio da imagem fotográfica.