“Imagens de uma fábula desfigurada: Arquivo, narrativa, fabulação e a colonização no oeste baiano em 1970 a partir do Álbum de família de Glenda Earl”.
: Imagem, Imagem amadora, Álbum de família, Arquivo-doméstico, Escrita feminina, Fábula, Fabulação.
A presente pesquisa tem como objeto fundamental a investigação de imagens domésticas a partir de sua inserção em álbuns de família, bem como aquilo que pode caracterizar suas singularidades estéticas, comunicacionais e historiográficas. Mais precisamente, este trabalho procura compreender o diário-fotográfico da senhora Glenda Earl enquanto escrita amadora, fazendo ver suas potências e contradições na leitura de um tempo histórico; de uma situação social e a de um espaço geográfico, a da ocupação agrícola do sertão brasileiro nos anos de 1970. Glenda Earl é uma anônima “mulher do lar”, matriarca dos Earl, família estadunidense que migrou ao Brasil no contexto do processo de colonização do oeste baiano, durante o período da ditadura militar no país. A passagem de Glenda pelo Brasil compreendeu o tempo de pouco mais de uma década, entre 1971-1985, quando, de forma contínua e sistemática, fotografou e organizou um extenso álbum de fotografias de família. Sua prática pode compor tanto o painel da trajetória de sua família no Brasil quanto as formas de ocupação e colonização dessa região e sua transformação em zona de monocultura permanente. Por fim, a pesquisa pretende investigar essas imagens considerando suas múltiplas topologias: o olhar amador; o imaginário colonial, mas também, sobretudo, o que aqui denomina-se “posicionamento doméstico”. Para isto, utilizamos a ideia de literatura menor, de Deleuze e Guattari. É principalmente a partir deste conceito que a pesquisa vai fazer derivar uma outra noção: a de “arquivo doméstico”enquanto agenciamento minoritário,
bem como buscar apontar as potências estético-políticas e as propriedades fabulatórias das visões femininas e anônimas aplicadas ao campo da história e da estética.