Cultura material no “novo normal”: As consequências da pandemia no cotidiano das camadas médias
Novo Normal; Pós-pandemia; Cultura Material; Etnografia; Comunicação.
Esta pesquisa analisa as consequências da pandemia da covid-19 a médio e longo prazo entre as camadas médias do Plano Piloto, em Brasília, Distrito Federal. Por meio de etnografia em 40 apartamentos de até 30m2, as quitinetes ou “kits” (diminutivo do inglês kitnet) como são popularmente conhecidas, em um condomínio localizado na área central da capital, parto da perspectiva "de perto e de dentro" para compreender os desdobramentos da pandemia mundial da covid-19 para interlocutores que integram um grupo diverso e heterogêneo, não apenas em termos financeiros ou da posse de bens de consumo, mas de profissões, gosto, estética e estilo de vida, isto é, são parte das camadas médias urbanas, como propõe Gilberto Velho (1989). Busco analisar os impactos da crise sanitária especialmente no trabalho, no estudo, na intimidade e nos relacionamentos, nos cuidados e nas práticas de higiene e limpeza, na alimentação e no entretenimento. Problematizo as fronteiras entre o público e o privado e, ainda, entre o online e o offline. A investigação se ancora em três eixos principais: 1) a casa e o ambiente doméstico enquanto espaços que foram ressignificados pela pandemia e onde foram estabelecidas novas práticas sociais, temporárias e permanentes; 2) as telas, sobretudo os smartphones, enquanto coisas que rearranjam a nossa cultura, produzem novos cotidianos e novas formas de ser e estar no mundo; e 3) o novo normal que, junto do pós-pandemia, figura enquanto categoria explicativa para delimitar um espaço-temporal e cultural no qual o vírus foi incorporado ao repertório dos atores sociais, emergindo enquanto significante e correspondendo à afirmação ou negação de suas visões de mundo (Martinelli, não publicado). A partir do conceito “smart-from-below" (inteligente a partir de baixo), de Daniel Miller (2021), identifico práticas criativas e inovadoras dos moradores do condomínio que chamo de Residencial dos Ipês para enfrentamento da pandemia e na constituição do que compreendemos como "novo normal". A partir do que propõe os estudos de cultura material, recorro à observação direta da configuração dos ambientes domésticos analisando a casa a partir da estética e os usos das coisas (mobília, ítens de decoração, eletrodomésticos e do próprio espaço físico de cada “kit”), para entender a casa a partir do ponto de vista das pessoas que moram nesses espaços. Também lanço mão de ferramentas da antropologia digital, como a etnografia online, para acompanhamento das interações e comportamentos virtuais dos interlocutores. A etnografia constitui a metodologia desta tese e subsidia a análise das práticas sociais que fundamentam a teorização da nova normalidade no campo de estudos da comunicação.