Comemos, logo resistimos! O consumo de comida indígena, representações midiáticas e resistência
Este trabalho é uma etnografia que tem como objetivo principal compreender como a comida indígena pode se converter num elemento de resistência para a luta indígena no Brasil. Para tanto, o conceito de comida vai muito além de alimento, este se amplia para um campo de produção de sentidos que incide nas identidades, sociabilidades e afetos. O objeto de investigação é comida indígena do Rio Negro, região localizada no Noroeste Amazônico, cujo Sistema Agrícola Tradicional é patrimônio imaterial brasileiro pelo Instituto do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (Iphan). Neste percurso, investigo como se constituem as cadeias que integram a sua produção, o trabalho envolvido no cultivo, caça, pesca, extrativismo e processamento, e também o consumo alimentar, de modo que me dedico a observar as construções de significados tecidas na passagem desses alimentos desde sua trajetória na natureza para uma condição cultural de “comida”. Considera-se nessa trajetória, a partir de Douglas e Isherwood (2006), que trabalho, produção e consumo são partes integrantes de um mesmo sistema.
A pesquisa é multisituada e tem como primeiro locus etnográfico é a cidade de São Gabriel da Cachoeira, e Manaus, ambas no estado do Amazonas, que são importantes centros de expressão da comida rionegrina. O terceiro é um locus da mídia que envolve a imprensa especializada em gastronomia e ainda a rede social Instagram que são locais de representação das identidades. Para tanto, a pesquisa se combina aos estudos de representação social de Stuart Hall (2016) a fim de compreender como os discursos midiáticos influenciam as identidades, o pertencimento e as disputadas de poder ao longo da cadeia de produção e consumo da comida indígena do Rio Negro