CARREGO O QUE POSSO, FAÇO QUINTAL ONDE DÁ: invenção em teatro de objetos a partir das recordações de mulheres migrantes
Teatro de objetos. Mulheres migrantes. Invenção. Memória. Oralidade
Este estudo propõe refletir sobre o percurso de invenção em teatro de objetos documentais do espetáculo Carrego o que posso, faço quintal onde dá (2024), realizado pelo coletivo artístico brasiliense Entrevazios e dirigido por Sandra Vargas. A criação tem como ponto de partida a escuta de histórias de vida de mulheres idosas que migraram para a nova capital federal, a partir de objetos antigos dispostos na ação Barraca de Memórias, bem como de objetos trazidos pelas próprias participantes. A pesquisa percorreu sete regiões que antecedem a inauguração de Brasília — Planaltina, Paranoá, Vila Planalto, Núcleo Bandeirante, Vila Telebrasília, Candangolândia e Brazlândia —, deflagrando mais de 80 histórias ao longo de duas etapas de escuta, realizadas entre 2023 e 2024. A partir dessas histórias, principalmente da primeira etapa, foram criados o minidocumentário Barraca de Memórias e o eixo dramatúrgico textual, que estruturou a dramaturgia de conjunto e a construção da máquina de cena. A estruturação teórica do percurso investigativo se ancora principalmente nas contribuições de Ecléa Bosi, Simone de Beauvoir e Henri Bergson, nos estudos da memória e da velhice; Ailton Krenak, Jorge Larrosa e Byung-Chul Han, nos estudos sobre tempo, experiência e narração; Sandra Vargas, Shaday Larios e Christian Carrignon, no teatro de objetos; e de Virginia Kastrup, Cecília Salles, Ana Pais e Jean Pierre Ryngaert, nos estudos sobre processo de criação. A tese, portanto, registra e reflete sobre o contato com as narrativas de vida individuais e coletivas dessas mulheres – e a criação e difusão de um trabalho artístico que carrega essas histórias - constitui uma ação política de legitimação, preservação e visibilidade histórica da memória social não contada de uma cidade inventada.