Investigando transformações de biomarcadores de interesse da epidemiologia baseada em esgoto mediadas por biofilmes
Epidemiologia baseada em esgoto, biofilme, transformação, reator em escala laboratorial
A epidemiologia baseada em esgoto (EBE) se consolidou como uma estratégia complementar aos métodos tradicionais de levantamento de dados relacionados ao consumo de drogas de abuso por uma comunidade, notadamente por seu caráter empírico e por ser capaz de fornecer dados de maneira não-intrusiva e em tempo quase-real. A EBE baseia-se na quantificação de biomarcadores em amostras de esgoto, seguido de um retrocálculo voltado a produzir estimativas de consumo e/ou de exposição ambiental da população investigada para diversas substâncias. Dentre os desafios que ainda se impõem para a obtenção de informações via EBE, destacam-se as possíveis transformações dos biomarcadores durante o período que permanecem no sistema de esgotamento sanitário. Assim, o presente estudo busca avaliar transformações in sewer de 19 biomarcadores a partir da identificação/determinação das substâncias parentais e/ou dos seus produtos de transformação em ensaios realizados na presença de biofilmes (BF) de esgoto produzidos em laboratório. Dessa forma, espera-se contribuir para rastrear incertezas associadas à estabilidade in sewer de biomarcadores, subsidiando alternativas que possam reduzir e/ou dimensionar essa fonte de incerteza da EBE. Para tanto, reatores foram construídos em laboratório para a produção de BF em condições aeróbia e anaeróbia para posterior utilização na realização de testes de transformação de biomarcadores de interesse da EBE. Os reatores foram continuamente alimentados, a cada 48 h, com esgoto bruto coletado semanalmente na entrada da estação de tratamento de esgotos Brasília Norte da CAESB, a fim de promover condições adequadas ao crescimento dos BF. Após o décimo mês, não se notou mudanças na aparência dos BF formados, já que a biomassa recobriu quase que completamente as paredes internas dos reatores, bem como os dispositivos empregados para aumentar a sua área superficial. Para avaliar a evolução da formação dos BF, 11 parâmetros físico-químicos foram monitorados. Foi possível observar que os valores médios de pH do esgoto bruto e do esgoto do reator anaeróbio (RAN) não diferem entre si (p < 0,05) enquanto o esgoto do reator aeróbio (RAE) é mais ácido, sugerindo a prevalência de processos de oxidação biológica que utilizam O2. Não foram observadas diferenças significativas entre os níveis de oxigênio dissolvido, indicando que há pouca ou nenhuma diferença entre as colônias de bactérias aeróbias presentes nos reatores, fato que não condiz com as condições distintas de produção dos BF. Para a condutividade elétrica (CE), o esgoto bruto utilizado na alimentação apresentou, de maneira geral, os menores valores para esse parâmetro comparado aos esgotos RAE e RAN variando entre 699 e 972 µS cm-1, indicando maior decomposição de matéria orgânica nos reatores. A partir dos dados de potencial redox (EH) o esgoto RAN apresentou a condição mais redutora e, portanto, anaeróbia dentre os três . Assim, foi possível concluir que houve, de fato, maior atividade biológica nos reatores devido à presença dos BF do que no esgoto bruto onde os microrganismos se encontram em suspensão. Por outro lado, apesar das evidências experimentais sugerirem que o BF produzido no RAN apresenta predominância de características anaeróbias enquanto o BF do RAE apresenta predominância aeróbia, somente a avaliação da metanogênese e da redução de sulfato em cada um dos reatores pode estimar a extensão dessa diferença.