AVALIAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO ENTRE O ÍNDICE DE CÁLCIO CARDÍACO, MENSURADO DO PELO ECOCARDIOGRAMA TRANSTORÁCICO BIDIMENSIONAL, E A PRESENÇA DE DECLÍNIO COGNITIVO EM OCTOGENÁRIOS LIVRES DE DOENÇA CEREBROVASCULAR MANISFESTA
Aterosclerose; Calcificações cardíacas; Declínio cognitivo vascular; Muito idosos.
Introdução: O declínio cognitivo vascular é uma das variedades das síndromes demenciais resultantes de comprometimento cerebrovascular e suas manifestações isquêmicas com alta prevalência em idosos. As calcificações de estruturas cardíacas como anel mitral, valva aórtica, músculos papilares e raiz aórtica, além de serem prevalentes na população idosa, são expressão de aterosclerose sistêmica, associadas, também, a fatores de risco cardiovasculares comuns àqueles para aterogênese cerebrovascular. Dessa forma, espera-se que pacientes com maior grau de calcificações cardíacas tenham menor desempenho cognitivo e maior prevalência de declínio cognitivo. Objetivo: Verificar a associação entre o índice de cálcio cardíaco com declínio cognitivo em octogenários livres de doença cerebrovascular manifesta. Métodos: Análise transversal de estudo observacional coorte de avaliação da prevalência de fatores de risco e de desenvolvimento de doença aterosclerótica em pacientes com oitenta anos ou mais livres de doença cerebrovascular manifesta no início do seguimento. Para avaliação cognitiva foi realizado o Mini Exame do Estado Mental (MEEM). O índice de cálcio cardíaco foi obtido através de exame de ecocardiograma transtorácico bidimensional conforme escore semi-quantitativo proposto por Gaibazzi et al. com análise das calcificações no anel mitral, valva aórtica, músculos papilares e raiz aórtica. O escore final foi a soma de todos os depósitos de cálcio identificados em uma faixa de 0 (nenhum cálcio visível) a 8 (extensos depósitos cardíacos de cálcio e na raiz aórtica). Foram realizadas ressonância magnética de crânio sem contraste nas incidências T1, T2 e FLAIR, para avaliação de alterações de neuroimagem compatíveis com demência vascular em uma amostra do grupo. Os dados coletados foram analisados através do Teste T de Student, teste de Mann-
Whitney, teste do qui-quadrado, análise multivariada por regressão logística e regressão linear. Resultados: No estudo foram avaliados 255 idosos. A idade mediana dos indivíduos arrolados foi de 83 anos, composta de 61% do sexo feminino e presença de declínio cognitivo em 52 indivíduos (20,4% dos participantes). A calcificação do anel mitral se correlacionou de forma estatisticamente significativa com declínio cognitivo tanto no modelo sem ajuste (p=0,024), quanto no modelo de regressão linear ajustado para a idade, sexo e tempo de estudo (p=0,033) e no modelo ajustado para idade, sexo, tempo de estudo, esclerose da valva aórtica e escore total de calcificação (p=0,033). Foram analisadas as variáveis independentes escore total de cálcio e esclerose valvar aórtica em modelos mutlivariados, as quais não se correlacionaram à pontuação do MEEM característica de declínio cognitivo. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os grupos com relação as variáveis da ressonância de crânio. Conclusão: A presença de calcificação do anel mitral se associou de forma independente com declínio cognitivo nesta amostra de octogenários livres de doença cerebrovascular manifesta. O escore total de cálcio, esclerose valvar aórtica, calcificação dos músculos papilares e calcificação da raiz aórtica não se correlacionaram à pontuação do MEEM característica de declínio cognitivo após ajustes.