“Efetividade de longo prazo do tratamento precoce da artrite reumatoide em cenários de vida real no brasil”
Artrite Reumatoide, Assistência à Saúde, Acesso aos Serviços de Saúde, Avaliação de Resultados da Assistência ao Paciente, Resultado do Tratamento
Introdução: tratamento precoce (em até 3 meses de sintomas, idealmente) e controle estrito da doença são fundamentos no manejo da artrite reumatoide (AR), todavia nem sempre exequíveis na vida real. Objetivos: avaliar retardos diagnósticos e terapêuticos da AR no Brasil; avaliar efeitos do acesso precoce ao reumatologista, do tratamento precoce e da estratégia de controle (estrito vs. convencional) da AR no longo prazo (após longa duração de doença), em cenários de vida real. Métodos: adultos preenchendo critérios classificatórios (ACR/EULAR 2010) para AR, em 11 hospitais brasileiros, foram recrutados entre agosto/2015 e abril/2016, para estudo de follow-up. Avaliaram-se características clínicas, atividade de doença (DAS28), função física (HAQ), doença erosiva, retardos diagnósticos e terapêuticos, estratégia de controle da AR (estrito vs. convencional) e a especialidade do médico quem primeiro consultou o paciente (ao início dos sintomas) e estabeleceu o diagnóstico. Testes chi-quadrado, t de students, Mann-Whitney, ANOVA, correlação, tendência de Mann-Kendall e regressão multivariada (nível de significância: 0,05) foram conduzidas no SPSS 25 e R 3.6.2. O estudo recebeu aprovação ética; todos os participantes assinaram consentimento esclarecido. Resultados: foram incluídos 1116 participantes; mulheres: 89,4%; brancos: 56,8%; média (DP) de idade: 57,5 (11,5) anos; duração de doença: 174,9 (115,0) meses; atividade de doença (DAS28): 3,62 (1,52); função física (HAQ): mediana [Q1; Q3] = 0,875 [0,250; 1,500]; doença erosiva em 54,9%; fator reumatoide positivo em 78,6%. Houve redução nos retardos diagnósticos (tau = -0,677, p < 0,001) e terapêuticos (tau = -0,695, p < 0,001) desde 1990. Todavia, no período 2011-2015, a mediana [Q1; Q3] do retardo terapêutico ainda era de 11 [5; 17] meses. Em 80,7%, o diagnóstico foi estabelecido somente pelo reumatologista. Acesso precoce ao reumatologista se associou a maiores chances de tratamento precoce (OR 2,57 [1,54; 4,27]; p<0,001) e, no longo prazo, a menor atividade de doença (diferença em médias [IC95%] no DAS28: -0,25 [-0,46; -0,04]; p = 0,020) e melhor função física (HAQ: -0,20 [-0,31; -0,09]; p < 0,001). Tratamento precoce (em análises bivariadas) se associou a menor atividade de doença, melhor função física e menos doença erosiva, todavia perdendo significância (p ≥ 0,05) após ajustado para idade, escolaridade e duração de doença. Controle estrito de doença se associou, no longo prazo, ao menor uso de corticoide (χ2 = 59,1; p < 0,001) e de biológicos (χ2 =10,2; p = 0,017), menos doença erosiva (χ2 = 32,1; p <0,001), maiores taxas de remissão da AR (χ2 =14,4; p = 0,002) e menores escores DAS28 (F = 3,44; p = 0,018) e HAQ (F = 5,2; p = 0,002). Conclusões: reduziram-se os retardos diagnósticos e terapêuticos da AR no Brasil, nas últimas décadas, porém ainda persistindo retardos substanciais. O diagnóstico da AR foi muito dependente do reumatologista. Acesso precoce ao reumatologista se associou a melhores desfechos clínicos no longo prazo. O tratamento precoce, ajustado para fatores de confusão, não implicou melhores desfechos de longo prazo na vida real; o controle estrito de doença, todavia, associou-se a menor atividade de doença, melhor função física e menor dano radiográfico.