TESTE MOLECULAR NA DETECÇÃO DE INFECÇÕES SEXUALMENTE TRANSMISSÍVEIS EM COLO DE ÚTERO DE MULHERES JOVENS NO SUS
IST, HPV, exame citopatológico, colo do útero, teste molecular
No Brasil, os testes moleculares ainda não são rotineiramente utilizados no rastreamento e diagnóstico das ISTs no SUS. A maioria das infecções é assintomática ou apresenta sinais e sintomas que podem ser confundidos com os causados por infecções endógenas. A IST, quando não é diagnosticada, pode ser transmitida para os parceiros e facilitar a infecção por outros agentes de IST mais graves, como HIV e vírus da hepatite B. Além disso, o tratamento empírico de IST, apenas com base em achados clínicos, pode implicar em diagnóstico falso-positivo e em uso desnecessário de antimicrobianos com surgimento de infecções resistentes ao tratamento. O objetivo deste estudo foi avaliar a frequência dos principais agentes de IST curáveis e não curáveis detectáveis em amostras de colo de útero de pacientes jovens atendidas no SUS. Foram incluídas pacientes com idade de 18 a 25 anos que foram submetidas a teste molecular para detecção de HPV e de outros tipos de agentes de IST (Chlamydia trachomatis Mycoplasma genitalium, Vírus Herpes simplex virus 1 e 2, Trichomonas vaginalis, Neisseria gonorrhoeae, Haemophilus ducreyi e Treponema pallidum), a exame citopatológico de colo de útero e a exame clínico. Um total de 300 pacientes foram incluídas. A maioria (52,67%, 158) das pacientes apresentou pelo menos um tipo de IST (infecção por HPV e/ou por outro tipo de agente de IST): 38,33% (115), apenas infecção por HPV; 5,67% (17), apenas infecção por outros tipos de IST; e 8,67% (26) por HPV e por outros agentes de IST. Infecção por pelo menos 1 tipo de HPV foi detectada em 47% (141) do total de pacientes, sendo que, em 32,33% (97) das pacientes pelo menos 1 tipo de HPV de alto risco foi detectado. Do total de pacientes, 20,67% (62) apresentou infecção por apenas HPV de alto risco, 12,66% (38) apenas HPV de baixo risco, 11,67% (35) por ambos os tipos e 2% (6) por genótipos de HPV não determinados. Infecção por múltiplos de HPV foi detectada em 18,67% (56) do total de pacientes. Pelo menos um dos outros tipos de agentes de ISTs foi detectado em 14,33% (43) das pacientes. A frequência dos agentes, detectados no total de pacientes, foi a seguinte: Chlamydia trachomatis em 10,67% (32), Mycoplasma genitalium em 3% (9); Vírus Herpes simplex virus 2 em 1% (3); Trichomonas vaginalis 0,67% (2); Neisseria gonorrhoeae em 0,33% (1). Infecção múltipla por outros tipos de ISTs (por mais de 1 tipo de agente de IST não HPV) foi observada em 1,33% (4) das pacientes. Os agentes Haemophilus ducreyi, Treponema pallidum e Vírus Herpes simplex 1 não foram detectados. Houve associação positiva e significativa de infecção por outros tipos de IST com infecção por HPV de alto risco e com exame citopatológico de colo de útero alterado. O exame citopatológico de colo de útero estava alterado (com atipais celulares) em 42,66% (128). A frequência de pacientes com outros tipos de ISTs com sinais e/ou sintomas sugestivos de IST, com apenas sinais e/ou sintomas ginecológicos inespecíficos e sem sinais e sintomas foi, respectivamente, de 15,78% (3/19), 57,89% (11/19), 26,31%. Não houve associação significativa de infecção por outros tipos de IST com sinais e sintomas ginecológicos inespecíficos ou sugestivos de IST. As ISTs, detectáveis por teste molecular no colo de útero de pacientes jovens atendidas no SUS, são frequentes sendo que 38,67% das pacientes apresentam apenas infecções incuráveis (por HPV e Herpes simplex vírus 2), 5,33% apenas infecções curáveis (por Chlamydia trachomatis, Mycoplasma genitalium, Trichomonas vaginalis e Neisseria gonorrhoeae), e 8,67% infecções incuráveis e curáveis. A frequência de exame citopatológico alterado é elevada em pacientes jovens devido à associação positiva e significativa com as ISTs A ausência de associação positiva e significativa com sinais e sintomas sugestivos ressalta a importância do teste molecular na identificação das ISTs.