ESTADO NUTRICIONAL E DESFECHOS CLÍNICOS DE PACIENTES COM DOENÇA DE CROHN DE ACOMETIMENTO PERIANAL FISTULIZANTE
doença de Crohn; fístula anal; estado nutricional; desnutrição; cirurgia colorretal.
Introdução: o acometimento perianal é frequente nos indivíduos com com doença de Crohn (DC), ocorrendo em até 50% dos pacientes ao longo da vida. Dentre as manifestações da doença perianal, as fístulas representam o tipo mais comum de envolvimento. Apesar do manejo clínico-cirúrgico combinado, muitos pacientes evoluem com refratariedade e cerca de 10 a 20% acabam necessitando de derivação do trânsito intestinal, e, em última instância, realização de proctectomia ou proctocolectomia com estoma definitivo. Um dos fatores que pode influenciar o prognóstico de pacientes com DC é o estado nutricional, entretanto, essa relação ainda é pouco esclarecida no contexto do acometimento perianal fistulizante. Sendo assim, esse trabalho objetiva analisar o impacto do estado nutricional nos desfechos clínicos de pacientes com DC perianal fistulizante. Métodos: trata-se de estudo de coorte retrospectivo. Os dados clínicos foram coletados dos prontuários médicos de pacientes com diagnóstico de DC de acometimento perianal, com fístulas crônicas sintomáticas, que foram submetidos a abordagem cirúrgica para posicionamento de sedenho de drenagem em trajetos fistulosos, em dois centros de referência em tratamento de DIIs, de janeiro de 2010 a dezembro de 2022. A classificação de triagem nutricional foi realizada de acordo com o Nutrition Risk Screening-2002 (NRS2002). Os pacientes com NRS-2002 ≥ 3 foram avaliados de maneira retrospectiva quanto ao diagnóstico de desnutrição de acordo com os critérios definidos pela Global Leadership Initiative on Malnutrition (GLIM). A prevalência de desnutrição e sua associação com o risco de desfechos clínicos (não cicatrização das fístulas, necessidade de abordagens cirúrgicas perineais adicionais, necessidade de abordagens cirúrgicas abdominais, troca de terapia biológica, derivação de trânsito intestinal e necessidade de proctectomia) foi analisada. Resultados parciais: dos 64 pacientes incluídos no estudo, 17 (26,6%) apresentavam diagnóstico de desnutrição. A mediana do tempo de seguimento foi de 53 meses. O grupo de pacientes desnutridos teve prevalência maior de proctite (100% vs 78,7%, p=0,038), menores valores médios de albumina sérica (3,47 vs 3,97 g/dL, p=0,002) e hemoglobina (10,9 vs 12,5 g/dL, p=0,003). Além disso, o grupo de desnutridos era mais jovem ao diagnóstico (24,2 vs 30 anos, p=0,046), apresentava menores IMCs (19,7 vs 24,9 Kg/m², p<0,001), índice de Harvey-Bradshaw mais elevado (10 vs 5, p<0,001) e uso mais frequente de corticoterapia (29,4% vs 4,3%, p=0,012). Os pacientes desnutridos apresentaram risco maior de proctectomia (47,1% versus 14,9%; p = 0,007) e maior chance de serem submetidos a abordagens cirúrgicas abdominais para tratamento da DC (70,6% versus 61,7%; p = 0,002). A análise multivariada revelou que desnutrição foi fator de risco independente para necessidade de abordagens cirúrgicas abdominais (OR 9,35; IC 1,44 - 60,80); p = 0,019) e proctectomia (OR 7,7; IC 1,2-48,3; p = 0,03) durante o seguimento.