Afastamentos laborais e fatores preditores por COVID-19 no HUB е construção de protocolos ideais de afastamento em diferentes momentos da pandemia.
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Introdução: a pandemia impactou de maneira significativa os profissionais de saúde, impondo desafios substanciais na gestão da força de trabalho. A rápida disseminação da COVID e à insuficiência de testagens levou a um maior número de afastamentos laborais, os quais interferiram na preservação da força de trabalho dos sistemas de saúde. Objetivos: avaliar a efetividade da construção dos protocolos de afastamentos baseados em testagens objetivas para reduzir os tempos de afastamentos laborais, interferindo na preservação da força de trabalho. E também avaliar as durações, as diferenças, o impacto e os preditores dos tempos de afastamentos entre os diferentes profissionais de saúde e de outras áreas. Métodos: estudo longitudinal observacional conduzido entre março de 2020 até abril de 2021, no Hospital Universitário de Brasília (HUB) envolvendo profissionais de saúde e de outras áreas operacionais e administrativas. Realizadas entrevistas em quatro momentos distintos (D0, D7, D15 e D30), registrando a data inicial e final do afastamento laboral. Critérios de inclusão: profissionais que foram afastados de suas atividades laborais pela suspeita clínica de COVID (estavam com sinais e/ou sintomas suspeitos e sem a confirmação do RTPCR) ou resultado positivo do teste RT-PCR para SARS-CoV-2. Critérios de exclusão: foram excluídos os participantes afastados do trabalho por causas não relacionados ao COVID. Foram coletadas informações sociodemográficas e clínicas, incluindo sexo, idade, categoria profissional, hábitos de tabagismo, COVID grave (foi definido como necessidade de qualquer tipo oxigênio e/ou internação) e a presença de comorbidades (hipertensão arterial sistêmica, doenças cardíacas, doença renal crônica, uso de imunossupressores, neoplasias em tratamento e infecção pelo HIV). Os fatores preditores de afastamento avaliados foram: idade, sexo, índice de massa comorbidades e a categoria profissional. A ausência do segundo teste de RT-PCR na amostra observada, pela rápida disseminação da COVID e falta de testagem, levou a construção de três modelos de protocolos de afastamentos ao longo da pandemia baseados nas recomendações CDC (center disease control and prevention). Foram designados de protocolos de afastamentos 1, 2 e 3, sendo propostos 14, 10 e 7 dias de afastamentos, respectivamente. Nesses protocolos, houve uma padronização entre os participantes sintomáticos e os assintomáticos e era sempre recomendado a repetir um segundo teste de RT-PCR após 48 horas da realização do primeiro teste. Essa medida foi adotada para retornar ao trabalho com segurança. Para a construção desses protocolos, foram considerados os participantes com sintomas leves/moderados de COVID e excluídos os graves e que os que não responderam. Para mimetizar os resultados dos segundos testes de RT-PCR, foi realizado a técnica de imputação de dados em três etapas. Na primeira etapa de imputação, foi usado a mesma proporção de positivos, tendo a formação do cenário estimado base. Depois na segunda etapa, foi usado a técnica de sensibilidade de 10% a mais de testes positivos sobre o cenário estimado base, criando o cenário estimado pessimista e na terceira etapa, foi colocado 10% a menos de testes sobre o cenário estimado base, tendo a formação do cenário estimado otimista. Com isso, teve as formações dos cenários estimados base, otimista e pessimista que foram os afastamentos potencialmente evitáveis e que não aconteceram na amostra observada. Análise estatística: As variáveis categóricas foram descritas por frequência absoluta e relativa e as variáveis contínuas foram apresentadas como média e desvio-padrão (DP). Para comparação entre o tempo de afastamento real e os tempos preconizados foi utilizado o teste t de Student (p < 0,05). Utilizou-se o test t de students (2 grupos) na comparação entre grupos na análise bivariada. Foi aplicado o teste de Welch nas variáveis não homogêneas. A comparação entre diferentes categorias profissionais foi realizada pelo teste de Kruskal-Wallis. Em seguida, foi realizado o teste de comparações múltiplas de Wilcoxon-Mann-Whitney com a correção de Bonferroni. Para as variáveis contínuas (idade e IMC) utilizou o coeficiente de correlação de Pearson. Resultados: 1019 participantes, média de idade de 38,8 anos (DP: 9,1) e IMC de 28,3 kg/m² (DP: 5,0). Predomínio do sexo feminino 75,5% (n=768), 58,3% (n=593) apresentaram sintomas, 20,1% (n=205) eram fumantes e 9,2% (n=94) apresentavam comorbidades crônicas. A forma grave da COVID ocorreu em 8,5% (n=87) casos, com necessidade de oxigênio suplementar em 8,4% (n=84), internaçcorporal (IMC), presença de dispneia, ageusia e/ou anosmia, COVID grave, hospitalar em 1% (n=10) e ventilação mecânica em 0,1% (n=1). Não foram registrados óbitos. Em relação aos protocolos de afastamentos, total de 551 sintomáticos: 192 apresentaram RT-PCR positivos e 339 RT-PCR negativos. Dos 410 assintomáticos: 204 apresentaram RT-PCR positivos e 210 RT-PCR negativos. Para a construção dos protocolos, total 1019 participantes, ocorreu 74 perdas que incluíram os indivíduos graves (n=20) e os que não responderam e que não sabiam (n=54), obtendo o número 945. O valor de 945 foi usado para mimetizar a formação dos cenários estimados base, otimista e pessimista, sendo que 27 participantes não coletaram em nenhum momento o teste RT-PCR, com isso obtivemos 918 indivíduos que haviam coletado o RT-PCR. A categoria profissional mais prevalente foi a de assistentes de enfermagem (34%, n=331). O sintoma mais frequente foi a cefaleia (21,6%, n=220) e a comorbidade Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) foi a mais prevalente (2,6%, n=27). Duração média dos afastamentos laborais relacionados à COVID foi de 16,7 ± 10,9 dias. Os enfermeiros apresentaram a maior média de afastamento (19,9 ± 13,3 dias), significativamente superior à observada entre médicos (13,0 ± 8,0 dias, p < 0,001), técnicos de enfermagem (16,6 ± 11,2 dias, p = 0,013), outros profissionais da saúde (14,3 ± 10,3 dias, p < 0,001) e os profissionais da área administrativa e de apoio operacional em saúde (16,6 ± 9,9 dias, p = 0,052). Não foram observadas diferenças estatisticamente significativas em comparação aos fisioterapeutas (19,8 ± 11,2 dias, p = 1,000). Os preditores significativos de maior duração dos afastamentos laborais relacionados à COVID incluíram a categoria profissional, tabagismo, gravidade da COVID, idade e índice de massa corporal. Conclusões: Os protocolos de afastamentos baseados em testagens no momento adequado teriam reduzido a duração dos afastamentos laborais. Essa medida impactaria a força de trabalho entre os profissionais que atuavam na área da saúde. Os enfermeiros apresentaram o maior tempo de afastamento laboral em relação as outras categorias profissionais, um achado que pode estar relacionado ao exercício da profissão e aos transtornos psíquicos originados no ambiente de trabalho durante a pandemia.