PRESENTEÍSMO EM RESIDENTES DE SAÚDE: PREVALÊNCIA E AVALIAÇÃO DE FATORES DE RISCO ASSOCIADOS
presenteísmo, saúde mental, síndrome de burnout, depressão, residência em saúde
Profissionais de saúde residentes são particularmente suscetíveis a morbidades mentais e suas consequências. O presenteísmo, definido como permanência no trabalho mesmo diante de doenças físicas ou psíquicas, compromete a capacidade de concentração, atenção e produtividade, e deve ser estudado pelos possíveis efeitos deletérios durante a formação dos profissionais de saúde. Diante disso, o objetivo deste estudo foi avaliar a prevalência de presenteísmo e seus fatores de risco em residentes médicos e outros profissionais de saúde atuando em hospitais distribuídos nacionalmente. Trata-se de um estudo transversal observacional que avaliou 569 residentes médicos e de outras profissões de saúde, de dezembro de 2020 a abril de 2021, em 95 instituições de saúde, distribuídos em 22 estados e no Distrito Federal. Para mensurar o presenteísmo, foi aplicado o questionário Stanford Presenteeism Scale-6 (SPS-6). A análise dos fatores de risco incluiu a aplicação de escalas validadas para avaliação de depressão (PHQ-9), burnout (OLBI) e resiliência (BRCS). Também foram avaliados o grau de autonomia no trabalho, a adequação da estrutura pedagógica do programa de residência e o número de dias de afastamento (absenteísmo) nos três meses anteriores. As análises estatísticas incluíram teste do qui-quadrado, correlações de Pearson e Spearman, e regressão multivariada para identificar preditores do presenteísmo (p<0,05). Participaram residentes de diversas áreas: médicos (48,7%), enfermeiros (10,8%), farmacêuticos (7,4%), nutricionistas (7,6%), psicólogos (5,8%), fisioterapeutas (5,4%), assistentes sociais (4,5%), dentistas (2,7%), terapeutas ocupacionais (2,2%) e outros profissionais (4,0%). Os resultados demonstraram alta prevalência de presenteísmo, afetando 62,6% dos participantes. Depressão e burnout, com prevalências de 68,4% e 51%, respectivamente, apresentaram associação significativa com aumentos de 109% e 180% no risco de presenteísmo entre os residentes. Residentes com baixa resiliência (65,4%) apresentaram aumento de 50% no risco de presenteísmo; e percepção elevada de autonomia reduziu o risco em 42%. Apenas o burnout manteve-se como fator preditor independente na análise multivariada por regressão logística. Quanto ao absenteísmo, residentes médicos apresentaram menor risco de afastamento (RR = 0,82); comorbidades aumentaram o risco em 49%, e maior presenteísmo associou-se ao aumento de 32% nos dias de afastamento. Os achados reforçam a necessidade de estratégias institucionais voltadas à saúde mental, à melhoria das condições de trabalho e ao apoio especializado, com o objetivo de promover o bem-estar dos profissionais de saúde, além de garantir a qualidade do cuidado e a segurança dos pacientes.