Manaus, urbanamente tradicional? Microcosmo ribeirinho visto dentro-de-casa em teimosia à Zona Franca.
Etnografia urbana; modos de vida ribeirinhos; memória; parentesco;
Zona Franca de Manaus.
Nesta dissertação, investigamos como modos de vida ribeirinhos persistem e se
reinventam nas margens urbanas de Manaus, a partir da etnografia da Casa-Raimunda –
morada construída por uma mulher migrante do Alto Solimões e habitada por três
gerações de trabalhadores das fábricas da Zona Franca de Manaus. Em diálogo com os
campos da antropologia urbana, do parentesco e da memória, a pesquisa acompanha as
transformações materiais, simbólicas e afetivas da casa entre 1969 e 2024, revelando os
conflitos, resistências e reinvenções que marcam a experiência de uma família ribeirinha
diante da urbanização fabril. A casa é tomada como microcosmo e contra-arquivo: lugar
de re-territorialização, registro coletivo e elaboração de lutos e pertenças. Coautoria,
memória coletiva e corazonar constituem os pilares metodológicos desta travessia. Em
tempos de renovação dos incentivos fiscais à Zona Franca de Manaus por mais 50 anos,
esta etnografia lança uma pergunta crítica ao futuro: que cidade emerge quando a floresta
é sistematicamente comprimida nos moldes industriais do desenvolvimento?