Oguata Ywy Mba’e Megua - Caminhando sobre a terra adoecida.
Povos Indígenas; Contracolonização; Antipoder; Desenvolvimento.
Para enganar as memórias, a Serpente do Colonialismo muitas vezes trocou de pele, mudou de nome e disfarce, foi escama de reis fugidos, foi pátria contra os que nem pátria tinham, ditaduras ditando dores em atos, decretos e leis; reptilínea república, partidos fragmentando pessoas, pisando utopias. Para expandir seu corpo e crescer, a Serpente Colonial há pouco trocou de pele mais uma vez – estava a pele antiga demasiado feia e suja – rastejou sobre cinzas e ossos ancestrais devastando árvores, macerou folhas, flores e raízes, pó de estrelas vivas, juntou seiva e sumo em macabro ritual, até aparecerem visíveis escamas esverdeadas. Camuflada está a chaga infecta que cobre o corpo da Serpente Verde do Capital.
Adornada rasteja. Constringe, constrange, sufoca e mata. Seu desviver avança sobre o corpo da nossa grande Mãe Terra. A Terra está com febre. Mesmo assim, seguimos caminhando, abrindo às nossas tragédias os caminhos do Arandu, insistindo e lutando, semeando sementes de rebeldia e liberdade em nosso caminhar sobre a Ywy Mba’e Megua, terra enferma, terra das coisas que definham. Nossos avós sempre souberam: o Um é ruim, o Um é triste, o Um é o desvier, o Um é o poder e o poder é primo-irmão do medo que move os genocídios, os apagamentos, as memórias assassinadas, as palavras mal ditas, os gritos, os discursos pelos quais e sobre os quais o poder constrói seus pobres argumentos, o terror que deles emana. O importante aqui é captar, ao mesmo tempo, a força e as formas do irreprimível desejo de liberdade insurgente contra a “fantástica atração pelo Um” da qual se alimenta a tentação constante da servidão voluntária.