Os Feitos das Redes Laboratoriais: Sobre um processo de humanização de leite doado.
Leite Materno; Banco de Leite Humano; Biomedicina; „Gender-racialização‟; doação de leite.
Abordo as práticas-discursos que afetam corpos lactantes e doadores de leite materno nas
redes laboratoriais dos Bancos de Leite Humano (BLH) no Brasil. Analiso a conexão
histórica entre conhecimento científico, procedimentos laboratoriais, políticas sanitárias e a
produção de corpos genderizados e racializados. Caracterizo as redes laboratoriais como
expressão de discursos e práticas sócio-cientificamente autorizadas. Observo como se
propaga, ratifica e se atualiza o imaginário de construção de um mundo concebido na
dicotomização entre o natural e o cultural, partilhado pela sociedade euro-ocidental. Assim
podemos pensar que o ingresso do leite „materno‟, visto „biomedicamente‟ como um fluido
da natureza, essencialmente produto de um corpo “feminino natural”, ao passar por uma
cadeia de procedimentos químicos e sociais se apresenta como um feito da cultura, isto é,
um produto do complexo biotecnológico e do pensamento científico apto a ser consumido
por toda a humanidade. Para tanto, ponho em diálogo as abordagens antropológicas
contemporâneas acerca dos estudos sociais da ciência e da técnica associados à análise
dos processos sócio históricos de formação do BLH. Utilizo dados etnográficos a partir de
experiência própria como doadora de leite. Amplio a pesquisa utilizando bibliotecas e
plataformas virtuais de busca como uma base de investigação de materiais dos campos de
conhecimento como a biomedicina, biologia e nutrição, que fazem parte do escopo das
análises sócio antropológicas aqui propostas.