“MINHA BISAVÓ FOI PEGA NO MATO A CACHORRO”: memórias de genocídio e parecenças indígenas
Povos indígenas. Corpo-documento. Parecença. Silêncio. Memória.
Expressões como “minha bisavó foi pega a dente de cachorro”, “minha bisavó foi pega no laço”. “minha bisavó foi pega no mato” ou outras variações, são comuns de norte a sul do Brasil. E o que significa ser pega no mato a cachorro? Quem era pega no mato a cachorro? Este estudo é um compilado de narrativas de mulheres com parecenças indígenas, corpos-documentos, que trazem em sua genealogia uma avó ou bisavó pega no mato a cachorro. A partir de suas narrativas, esta tese esmiúça o ser pego no mato a cachorro, destacando tal prática como técnica genocida aplicada a povos indígenas. Essa técnica foi utilizada entre os rios Pericumã e Turiaçu, no estado do Maranhão, mas especificamente nos municípios de Pinheiro, Presidente Sarney e Pedro do Rosário, território em que foi realizado o trabalho de campo. Alinhada à escuta desses corpos-documentos – conceito cunhado por Beatriz Nascimento e que trago nesta tese – foi realizada pesquisa no arquivo do cartório da cidade de Pinheiro, bem como mapeamento das notícias veiculadas no jornal impresso “Cidade de Pinheiro”, a partir da década de 1920 até a década de 1960, sobre a presença indígena na referida região entre os rios já citados. Em edições do jornal foram encontrados, até a década de 1950, dados sobre a presença indígena em diversos povoados. Nessas descrições foram mencionadas referências a pessoas e lugares, o que permitiu cruzar tais dados com as narrativas dos moradores dos lugares citados no jornal. O cruzamento de dados conduziu esta tese para uma encruzilhada negro-indígena.