Políticas indígena em movimento: estratégias e enunciados na luta pela terra
indigenismo; políticas indígenas; movimento; luta pela terra.
Esta tese parte de uma trajetória vivida em distintas frentes do “indigenismo” e propõe
uma inflexão: uma etnografia à posteriori sobre as práticas políticas de povos indígenas,
seus movimentos e transformações recentes. Recusando a ideia de que o indigenismo
seja um objeto externo à antropologia, busco compreendê-lo como um campo
tensionado de práticas e discursos — protagonizado, cada vez mais, pelos próprios povos
indígenas, mas também por agências estatais e organizações não governamentais — e
como um contexto ativo de produção do conhecimento antropológico. A pesquisa
articula dois eixos etnográficos: o primeiro, baseado na atuação junto ao povo Krahô e
suas associações comunitárias, onde o associativismo é mobilizado como instrumento de
ação política, reorganização interna e articulação externa; o segundo, centrado na
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a partir de uma etnografia à posteriori
das plenárias, cartas públicas, campanhas e mobilizações dos Acampamentos Terra Livre
desde 2022, incluindo o processo de transição governamental que resultou na criação do
Ministério dos Povos Indígenas. Ao acompanhar esses processos, observo os
deslocamentos e reconfigurações nos enunciados e estratégias do movimento indígena
nacional, cuja principal bandeira segue sendo a luta pela terra e pelos direitos territoriais.
O termo “movimento” é mobilizado aqui em seu sentido polifônico: como ação coletiva
organizada de um corpo político, mas também como deslocamento, transformação e
produção de novos sentidos para habitar e disputar a política. Em diálogo com diferentes
perspectivas sobre o indigenismo — e atenta aos conflitos, ambivalências e
agenciamentos que o atravessam — proponho refletir sobre a pluralidade de sentidos
que conceitos como autonomia, autodeterminação e representação assumem nas
políticas indígenas contemporâneas.