Experiências que Marcam, Cicatrizes que Ficam — Antropologia dos Silêncios
ABRAEX (Associação Brasiliense de Ex-Bolsistas Brasil-Japão); Antropologia dos Silêncios; Dádiva; Estudos Asiáticos; Estudos Japoneses; Ex-bolsistas MEXT; Experiência Intercultural; Gaijin (外人); Gratidão; Identidade; Linguagem; Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia - 文部科学省; Nihonjinron (日本人論); Reconhecimento; Silêncio; Sofrimento.
(Em ordem alfabética)
Esta dissertação busca investigar as experiências de ex-bolsistas brasileiros no Japão. O trabalho baseia-se em uma série de entrevistas realizadas com ex-bolsistas do MEXT, programa de intercâmbio acadêmico do governo japonês, de várias gerações. Também em um evento da ABRAEX e nas vivências pessoais da autora. O foco da análise está na forma como a exposição dos bolsistas à sociedade japonesa moldou a percepção e as experiências desses indivíduos.
O tema central é a ambivalência da vida no Japão. Ela é ao mesmo tempo fascinante e dolorosa. O título — “Antropologia dos Silêncios” — nasce do não-dito. O sofrimento, a solidão e as dificuldades se escondem por trás da imagem de uma experiência bem-sucedida no exterior. Ao longo da pesquisa, o problema do déficit de reconhecimento na sociedade japonesa aparece em diversos aspectos das experiências relatadas. Ele evidencia como a categoria de gaijin (pessoa de fora) pode gerar um sentimento de não pertencimento e isolamento àqueles que ela abrange. Outrossim, os bolsistas são convidados a entrar, mas não a pertencer.
Os relatos ilustram a jornada dos bolsistas. Ao transitarem entre os dois países, eles precisam negociar suas identidades. Esse espaço é marcado por hierarquias linguísticas, expectativas e narrativas contraditórias. O trabalho desmistifica a ideia de que esses relatos são apenas materiais de pesquisa; eles revelam cicatrizes ofuscadas pelo silêncio institucional. A pesquisa discorreu, por fim, sobre a tensão entre a gratidão ‘obrigatória’ imposta pela dádiva da bolsa de estudos e o sofrimento vivenciado pelos indivíduos guardados nos bastidores. Elucidando a ambivalente situação em que, independentemente da escolha — falar ou silenciar —, haverá consequências reais ou simbólicas impostas aos participantes.
No fundo, este trabalho busca quebrar o silêncio sobre essas narrativas não contadas, oferecendo um olhar sensível e crítico sobre as complexas relações entre Brasil e Japão. Em sua essência, esta dissertação serve como uma “carta de amor à juventude” da autora e de seus colegas, que encontram no texto o reconhecimento e o acolhimento que lhes faltaram no Japão, e após o retorno.