Ser ou não ser russo: identidade e conflito
identidade, identificação, etnia, nação, Russkiy mir, Mundo Russo, Terceira Roma, Dugin, Donbass, Lugansk, cossacos, cossacos do Don, Rússia, Ucrânia.
O objeto teórico desta etnografia é como se articula e transforma-se a construção da identidade ou identificação – étnica ou nacional, particularmente em situações de fronteira ou conflito. O objeto empírico são as fronteiras da categoria russo, com foco na região da fronteira russo-ucraniana pós-Maidan (2014-2020), mais especificamente em Donbass, e nos cossacos do Don. Para tanto, foi realizado trabalho de campo em Rostov do Don, junto a interlocutores cossacos e na chamada República de Lugansk. Este caso etnográfico é situado num contexto etnológico maior eslavo-oriental e pós-soviético. Esse trabalha resgata e refina as noções de lealdades e atração de Stephen Shulman e Chew Sock Foon e o conceito de groupness de Brubaker, a partir das nções de alignment e reframing de John R. Eidson e outros, entendendo, assim, as categorias de identificação como articulando-se em molduras que podem se alinhar e re-enquadrar-se de diferentes formas. Esta tese propõe a noção de um vácuo póssoviético como gerador de demandas e dilemas identitários. Neste contexto, são também analisadas brevemente algumas ideias do geopolítico neoeurasiano Alexandr Dugin. O trabalho aborda ainda como a ideia de Moscou como Terceira Roma informa a noção de Russkiy mir (Mundo Russo) e a política dos “Compatriotas”. Aborda, além disso, como uma concepção de Estado como matrioska choca-se com ideias de Estado nacional e projetos de nação nos estados pós-soviéticos como a Ucrânia. Finalmente, identifica, paradoxalmente, um núcleo étnico-cultural-religioso centrado em Moscou mesmo em projetos russos pós-nacionais. Brevemente, são tecidas algumas considerações sobre o conflito russo-ucraniano pós-2022.